sábado, 31 de maio de 2014

MODELO DE JOGO BASEADO NO SISTEMA TÁTICO 4-4-2 LOSANGO


Quando um treinador opta por um modelo de jogo para a sua equipa, tem sempre várias condicionantes e referências para escolher uma forma de jogar para a sua equipa. Uma dessas referências é o sistema tático que define o posicionamento base dos jogadores. Quando o treinador atribui funções aos jogadores e adiciona processos defensivos e ofensivos à equipa, automaticamente está a implantar um modelo de jogo na equipa.

        Por norma, o sistema tático 4-4-2 losango não é um sistema de excelência na ocupação de espaços, mas é excelente para trocar a bola entre várias zonas do campo. Se os médios estiverem bem posicionados e em amplitude, existem inúmeras linhas de passe que são excelentes formas de iniciar um ataque. Assim, é um bom sistema para efetuar saídas de jogo de qualidade, seja por bola longa, subida das linhas ou troca de flanco.
        Este modelo de jogo será baseado em ataque rápido e movimentações dinâmicas, sem nenhum ponta de lança fixo. A apresentação do modelo de jogo, isto é, posicionamentos e movimentações será feita pelas fases do jogo descritas, das quais: saída de jogo, criação de situações de finalização, finalização, equilíbrio defensivo, recuperação defensiva e defesa propriamente dita.
 
        Saída de jogo
        Quando a equipa parte desde o primeiro setor com a bola controlada, o primeiro objetivo é posicionar a equipa para recuperar imediatamente a bola. A bola parte sempre de um lateral, com apoio do médio do mesmo lado que sobe e os restantes médios mantém a contenção em frente à cobertura da linha defensiva, como na figura 1.
 
 
       De preferência, a bola parte dos pés do defesa lateral e este decide o que fazer com a bola. A equipa acompanha a movimentação e decisão do defesa lateral e do médio do mesmo setor.
        A primeira opção passa pelo médio conduzir a bola ou arrancar para o ataque rápido. Se o adversário pressionar estes dois jogadores, a segunda opção é trocar de flanco imediatamente, seja através dos defesas ou médios, importando que seja pelo chão. A terceira hipótese para o portador de bola, mesmo que esteja incluindo um passe ao médio com devolução. A ideia é manter sempre a posse de bola. Por último, o extremo contrário mantém-se sempre aberto para receber a bola através do passe longo. O treino da saída de jogo deve incluir a tomada de decisão neste sentido: Atacar, sem pressão, manter a posse de bola e sair em passe longo.
 
        Criação de situações de finalização
        Após a saída de jogo, o médio ou o lateral tem a bola nos pés e tem a opção de passar para trás ou fazer a bola progredir para a frente. Existem duas opções se a escolha é levar a bola em frente: direcionar para o jogador alvo ou inverter o flanco. Se existe espaço no corredor para direcionar a bola ao extremo posicionado para receber, o portador da bola deve conduzir e passar ou passar imediatamente a bola.
        Quando existe bastante espaço para o extremo jogar, será uma grande vantagem para este tentar cruzar. Se não houver muito espaço para cruzar ou se a situação não for conveniente para a finalização, o extremo pode aproveitar as suas habilidades técnicas para segurar a bola em busca e opções ou enquanto a equipa sobe no terreno. Esta ação não deve demorar mais de três segundos. Se a equipa não consegue criar situações favoráveis, deve tentar inverter a bola de flanco.
       Criação de situações de finalização (2)
       Os restantes médios devem ser sempre opções de passe seguras e evoluídos taticamente para trocar a bola de flanco com eficácia. Quando o portador da bola não tem opções pela elevada pressão causada pelo adversário, a opção é levar o objeto do jogo para onde existe espaço livre, no flanco contrário. Preferencialmente, a bola deve ser trocada de flanco através do passe, se possível com três passes no máximo. O extremo contrário mantém-se aberto para servir de alvo a receber a bola no final da troca de flanco. O segundo alvo é o médio contrário.
       Criação de situações de finalização (3)
        Sempre que existe espaço livre, o médio portador da bola tem autorização para conduzir a bola em diagonal a partir do meio-campo. Antes do meio-campo, apenas a pode transportar em direção à linha de fundo. O extremo movimenta-se para receber a bola em conjunto com o médio ofensivo centro. Esse mesmo extremo oferece linha de passe em primeira opção e jogador alvo em segunda opção. Como jogador alvo, limita-se a receber a bola em profundidade para finalizar. Pode ainda apoiar o outro extremo em movimentos para desorganizar a defesa adversária, libertando espaço entre a defesa adversária. Por sua vez, o extremo contrário movimenta-se em rutura no momento do passe, pronto para finalizar (entra quando houver espaço livre para esse movimento). No momento de distribuição para os extremos, o médio contrário sobe e coloca-se para receber a inversão de flanco e cruzar. Se o desgaste deste médio for elevado, será o lateral do mesmo lado desse médio a fazer essa movimentação em largura.
       Situações de finalização (1)
       Se a opção de finalização mais segura for o extremo do mesmo lado do portador, então o novo portador da bola fica responsável por jogar em explosão e cruzar, seja longo, curto ou da linha de fundo. Se a opção mais viável é o outro extremo, um passe para as costas as defesa a receber pelo jogador alvo e um remate à baliza é a movimentação pedida pelo treinador.
        Situações de finalização (2)
        Outra opção que pode revelar-se segura será o passe para o médio-ofensivo. Este opta por passar para o outro flanco, rematar de longe ou passar a rasgar para ambos os extremos. Se nenhuma for possível, passa para trás e recomeça a criação de situações de finalização, seja pelo mesmo lado ou pelo flanco contrário.
        Equilíbrio defensivo (saída de jogo do oponente)
        Uma vez que o espaço no meio-campo é mal ocupado, a equipa deve estar sempre pronta a tentar recuperar a posse de bola. Os médios devem ser rápidos a pressionar, principalmente se a bola está no seu lado do campo. Quando isto acontece, o médio contrário junta-se ao centro do campo e entra em contenção. Os extremos fecham linhas de passe entre o meio-campo e a defesa adversária e pressionam o portador pelas costas. O médio ofensivo e os extremos devem estar prontos para contra-atacar mal a bola seja recuperada.
        Recuperação defensiva (construção de situações de finalização do adversário)
        Neste momento do jogo, equivalente à transição defensiva, é um momento cujo posicionamento da equipa é crucial. Duas linhas de contenção e cobertura devem estar formadas e de preferência subidas. O médio ofensivo pressiona forte nas costas e os extremos estão prontos para contra-atacar mal a equipa recupere a posse de bola. O extremo do lado do campo onde está a bola participa na pressão defensiva e o outro está colocado em espaço livre. Entre médio ofensivo e extremo em contenção, um destes irá receber a bola e iniciar o contra-ataque.
        Defesa propriamente dita (situações de finalização do adversário)
        A equipa forma duas linhas de quatro jogadores com pressão máxima para recuperar a bola e amplitude deve ser pequena. Os extremos assumem função para contra-atacar quando a bola é recuperada. Enquanto isso não acontece, ajudam a pressionar forte. Se o contra-ataque for impossível, a opção mais viável é manter a posse de bola e esperar pela movimentação da equipa.
     
  Habilidades individuais
        Os defesas devem ser hábeis no espaço, entre contenção/cobertura defensiva. Os extremos devem ser explosivos e muito hábeis na finalização/criação de situações de finalização. A dinâmica aplicada aos extremos permite a estes jogar em amplitude e com apenas uma substituição, alterar o sistema para 4-3-3. Os médios devem ser extremamente criativos e com habilidade para jogar nas faixas laterais e no centro.
 
 
 
 
 
 
      
 
 

sexta-feira, 30 de maio de 2014

AQUI VAI UM BOM EXERCÍCIO PARA A ORGANIZAÇÂO COLETIVA


O treino do futebol é baseado na organização da equipa sobre uma forma de jogar específica, como indica o princípio da especificidade do treino. Uma vez que importa desenvolver o jogo coletivo, e consequentemente melhorar os processos da equipa, os jogadores devem ser treinados sob estímulos que conduzam a essa melhoria. O exercício seguinte foi criado a pensar em estímulos para passe, apoio e posse de bola, perceção dos colegas de equipa e jogo sem bola. É um exercício, pois não estimula a finalização de forma intencional ou real.

        Material: 5 coletes de uma cor, 1 colete de outra cor, 8 cones, 1 bola

        Número: 5 jogadores x 5 jogadores + jogador livre

        Duração: 7-12 minutos

 
        Organização
        Numa área com aproximadamente 60 metros por 40 metros, duas equipas jogam futebol, 5 jogadores contra 5 jogadores, e com um joker que apoia a equipa em posse de bola. As balizas são reduzidas, e existem duas áreas marcadas pelos cones verdes representados na figura, cada uma com 20 metros por 40 metros. Os jogadores apenas podem rematar dentro desse limite. O joker ou jogador flutuante, não defende.
        Descrição
        Neste exercício, o objetivo fundamental é desenvolver a capacidade da equipa em jogar como equipa, obrigando os jogadores a determinados estímulos que fundamentam ações específicas decorrentes numa partida. O jogo de passe é bastante desenvolvido neste exercício, pois é uma das formas mais viáveis de procurar a finalização, que apenas pode ser realizada dentro da área que a equipa adversária está a defender. O jogador de sobra apoia as duas equipas, e pode ser um dos médios ofensivos do plantel. Como o objetivo é melhorar a perceção dos jogadores da equipa, cada equipa cujo um jogador "pede" a bola, sofrerá um livre. Os jogadores não devem pedir a bola, mas devem procurar criar linhas de apoio ao portador da bola. O treinador deve ainda procurar impor algumas condições, como apenas usar o pé mais fraco para passar, tentar tabelas entre jogadores ou ainda controlar a bola antes de passar

segunda-feira, 19 de maio de 2014

FUNDAMENTOS DO 4-4-2 LOSANGO (Parte 1)


 Este é o primeiro de uma pequena série de artigos fundamentados no 4-4-2 losango, onde desenharemos um modelo a partir deste sistema tático. Como todos sabemos, o jogo sem bola é muito importante. Se, quando a bola está na nossa posse, apenas um jogador a têm, os restantes dez jogadores devem saber como se movimentar, quando não temos a posse de bola são onze jogadores que se devem movimentar corretamente. Existem muitos processos para impedir que o adversário atinja a nossa baliza com a bola, e a pressão em zonas adiantadas do terreno é um desses processos. Desta forma, vamos desenhar algumas soluções para pressionar alto através do esquema 4-4-2 losango.

       Porque pressionar no 4-4-2 losango, em zonas adiantadas do terreno?

       Pessoalmente, não gosto do 4-4-2 losango por completo. Alguns dos Comportamentos táticos defensivos no futebol, relacionados ao sistema 4-4-2 em losango são difíceis de compreender e até de resolver. A organização entre os jogadores do meio-campo não deixa muito a desejar, e para que estes se mantenham organizados, a defesa deve estar sempre próxima e a cobrir os médios. Apesar de ser um esquema tático com tendência ofensiva (pelo menos, eu gosto mais do 4-4-2 losango para equipas ofensivas e não defensivas), também é possível defender bem se soubermos organizar os vários momentos de jogo como é descrito neste artigo. 

       Podemos, de qualquer forma, aliar o 4-4-2 losango à pressão alta, para obrigar o adversário ao erro. Este método de defesa requere laterais pouco subidos, médios pressionantes e avançados ativos também na pressão contra os adversários. Se algum destes setores falhar, este método defensivo não terá resultado. De qualquer forma, em qualquer método defensivo, nenhum setor pode falhar. Vejamos:



       O meio-campo é composto apenas por 4 jogadores, organizados em espaço largo. Quatro jogadores são pouco para uma equipa que pretende  controlar o meio campo, especialmente porque ficará sempre um corredor de vago se o espaço for bem fechado. Os avançados devem então recuar e ajudar a pressionar, para criar vantagem numérica com o apoio da defesa. Desta forma, com linhas próximas, o 4-4-2 losango torna a zona central do terreno super povoada, sendo difícil de ultrapassar. Mas, caso o meio-campo não pressione o suficiente para recuperar a posse de bola, restará apenas uma linha de quatro jogadores, sem cobertura, que pode ser facilmente ultrapassada. Portanto, os médios devem ser bastante pressionantes



        Se a linha da defesa estiver demasiado longe dos jogadores do meio-campo, isso representa que o espaço defensivo entre a defesa e os médios é ocupado apenas pelo médio defensivo ou trinco. Isso representa pouco. O princípio da cobertura defensiva afirma que um segundo jogador se coloca em posição atrás de um primeiro jogador, para que este tenha liberdade para desarmar. Uma linha defensiva bastante longe dos médios não representa cobertura defensiva a estes, que forem ultrapassados, a equipa perderá o controlo do jogo. A linha da defesa nunca pode ficar muito distante dos médios, pois isso representa o controlo do jogo.



       Quanto aos avançados, estes devem estar sempre em jogo. Devem sempre pressionar nas costas do portador, fechar linhas de passe e obrigar os adversários ao erro. Se a  linha defensiva se mantém próxima dos médios e lhe garante cobertura, os avançados juntam-se aos médios para recuperar a posse de bola, formando vantagem numérica na zona onde esta se encontra. Desta forma, existem quatro jogadores a pressionar o portador de frente, dois a pressionar as costas do portador e quatro jogadores em cobertura defensiva, para que os restantes tenham liberdade para tentar recuperar a bola.

       Conclusão

       Este método defensivo baseado neste esquema tático, não é um método defensivo geral do mesmo. Pode ser utilizado em outros sistemas táticos, como podemos recuperar a bola através da pressão alta. Um facto é que não é fácil defender em 4-4-2 losango, a não ser que a equipa seja bem treinada. Por outro lado, dado o esforço que é pedido aos jogadores, este sistema tático pode até ser utilizado para os manter concentrados, tornando-se assim, numa excelente ferramenta. Em outros artigos, continuaremos a explorar o nosso 4-4-2 losango. Até já

 

O QUE DEVEMOS TREINAR NUM GUARDA REDES

        Quais são as características que o treinador deve treinar no guarda-redes?
 
        Dentro do campo, o guarda-redes passa muito menos tempo com a bola do que os colegas de equipa, e quando intervém, não intervêm da mesma forma. Geralmente, os colegas de equipa jogam a bola quase sempre com os pés. O guarda-redes quase nunca joga com os pés, mas com as mãos. Assim, sabemos que a técnica do guarda-redes é diferente da técnica dos vários jogadores de campo, necessitando, por isso, de ser treinado de forma diferente. Vamos estudar o que é importante treinar no guarda-redes.


        1- Flexibilidade e agilidade
        Uma das características físicas mais importantes num guarda-redes é a facilidade com que este se consegue mover e como se move. Não me refiro a mover-se de um sítio para o outro, mas a movimentar-se quando um adversário cruza ou remata. Sempre que surge uma ação onde o guarda-redes precisa intervir, a primeira coisa que o guarda-redes faz é analisar a situação e tomar uma decisão. Independentemente da velocidade do cérebro em perceber a situação e comandar o organismo do guarda-redes, este nunca será suficientemente rápido para agir se o seu corpo não o permitir. Exercícios para agilidade e flexibilidade são ótimos exercícios para treinar guarda-redes.



        2- Reflexos

       Um guarda-redes que costuma ser muito rápido a reagir a um remate ou cruzamento é, por norma, um guarda-redes com reflexos elevados. Esta característica dos guarda-redes contabiliza o tempo que demoram a pensar desde o momento que analisam a situação de jogo até ao momento que se começam a movimentar para agir. Assim, entre o momento que o adversário efetua o remate e o momento que o guarda-redes tenta defender a bola (tempo de reflexo), quanto menor for esse tempo, maior serão os reflexos do guarda-redes. Em qualquer situação, um guarda-redes com reflexos muito elevados é um guarda-redes muito rápido a reagir, e por isso, mais difícil de bater. Esta
é uma característica psicológica que, durante a partida de futebol, não está diretamente ligada ao posicionamento dos colegas e dos adversários nem está diretamente relacionada com a técnica. Assim, os exercícios para melhorar os reflexos do guarda-redes devem ser específicos, treinando apenas os reflexos e, se possível pouco mais que isso.
 



       3- Posicionamento
       O posicionamento do guarda-redes é um dos maiores fatores de sucesso nos guarda-redes em qualquer partida de futebol. Um guarda-redes bem posicionado demora menos tempo a alcançar a bola, aumentando as probabilidades em defender o remate em causa. Quando o guarda-redes está de frente para a bola, deve imaginar duas linhas que vão desde a bola até aos postes, e com isso fechar o espaço possível da melhor forma, colocando-se entre as duas linhas, a igual distância uma da outra. Na figura seguinte, apesar do segundo guarda-redes estar mais longe da bola, tem mais hipóteses de defender, pois ocupa o espaço da baliza por igual. O primeiro guarda-redes demorará imenso tempo a defender se a bola for rematada para o espaço contrário da baliza.



       4- Comunicação e comando

        O guarda-redes é o último jogador colocado entre bola e a baliza, e por isso consegue ver o jogo melhor que qualquer um dos seus colegas. Assim, sempre que o guarda-redes vê um colega de equipa que vai ser ultrapassado ou vê um adversário a desmarcar-se para receber a bola, avisa os colegas de equipa que prontamente reagem à situação. Funciona como um conselheiro no jogo, ajudando os colegas de equipa a fechar espaços que estão abertos, impedindo a equipa de ser surpreendida. Este tipo de treino não é feito em exercícios específicos, mas durante o jogo ou jogos no treino. Com o tempo, o guarda-redes aprende a avisar os colegas, melhorando a postura defensiva da sua equipa


       5- Determinação
       Esta característica tem um tipo de treino um pouco diferente uma vez que é uma característica totalmente psicológica, e por isso, não se treina apenas com remates ou defesas. Para que um guarda-redes entre e saia em jogo determinado a jogar bem e vencer, é preciso instruir este tipo de cultura no treino, isto é, pedir ao guarda-redes que se concentre no treino, que tente defender todos os remates, mesmo que não tenha hipótese, que se levante rapidamente sempre que estiver no chão, que demore o menos tempo possível a reagir, mesmo que seja uma, duas ou três vezes seguidas, e por ai adiante. Se necessário, o treinador de guarda-redes deve criar um exercício específico para a determinação do guarda-redes, obrigando-o a concluir um determinado número de defesas e depois repetir esse exercício, obrigando-o a repetir um número de defesas ainda maior.
 

       6- Coragem

       A coragem é também uma característica psicológica, mas que pode ser treinada com exercícios específicos. Pessoalmente, considero que a coragem deve ser treinada em duas fases distintas. Na primeira fase, o guarda-redes deve ser instruído a ir à bola, tentar sair de punhos, sair a jogar, enfrentar situações de 1x1 fora da área, e todas as situações que o guarda-redes necessitar intervir. A primeira fase serve para o guarda-redes se ambientar com cada situação e aprender a resolvê-la sem receio nem medo. Na segunda fase, o guarda-redes deve ser instruído a perceber em quais são as situações em que deve agir e quais são as situações onde não deve agir. Assim, o guarda-redes sabe em que momentos deve utilizar determinado recurso e como utilizá-lo



       7- Leitura de jogo

       O guarda-redes é o jogador que passa menos tempo com a bola nos pés, mas que não o impede de aprender a ler o jogo. Em muitos modelos de jogo, o guarda-redes é o primeiro jogador a participar na saída de jogo da equipa, e que por isso é muito importante saber para quem passar a bola na saída de jogo. É igualmente importante aprender a ler o jogo pois vai facilitar a leitura do jogo do adversário que, por sua vez, auxilia no posicionamento em frente à baliza como no comando da defesa, ao perceber o que o adversário vai tentar fazer e avisando os colegas de equipa.

 
        Através da compreensão das características dos guarda-redes, e sabendo que estes exigem um treino diferente da restante equipa, compreendemos como devemos organizar o treino semanal e incluir os guarda-redes. Por exemplo, podemos aproveitar momentos do treino onde os jogadores treinam características especificas para treinar os guarda-redes, e aproveitar os jogos durante o treino para treinar os guarda-redes nas suas características coletivas

sexta-feira, 16 de maio de 2014

ESTRATÉGIAS PARA TREINAR ATAQUES RÁPIDOS E ATAQUES POSICIONAIS


       O comportamento do ser humano é constituído por hábitos que, por um lado, nos ajuda a estabilizar as nossas vidas, e por outro lado, cria barreiras na nossa evolução. Isto significa que, quando nos habituamos a fazer algo, que implica fazer, e repetir várias vezes, tornámo-nos especialistas nessa tarefa. Então, transferindo esta ideia para o futebol, a periodização tática não serve para treinar a capacidade física geral dos jogadores, porque isso não é necessário no jogo. Necessária sim, é a capacidades físicas específicas, e não a geral. Além disso, a periodização tática serve para treinar o comportamento dos jogadores, repetindo esses comportamentos várias vezes em situações semelhantes, até que o cérebro de cada jogador aprenda e mais tarde se habitue a jogar da forma como treinou. Através da periodização tática, cuja filosofia se vai buscar fora da vertente tática mas que treina essa vertente, é possível modelar a forma de jogar que queremos para a nossa equipa, repetindo várias vezes os comportamentos que o nosso modelo de jogo contém, enfrentando os comportamentos que a nossa equipa vai encontrar.

       Estratégias para treinar ataques posicionais e ataques rápidos

       É verdade quando afirmamos que o ataque posicional e o ataque rápido têm os princípios de jogo tratados de forma diferente. Se por um lado o ataque posicional requer que a bola seja cuidada, com processos de jogo mais demorados, por vezes até complexos, os ataques rápidos são processos ofensivos globalmente mais simples, normalmente com um desgaste maior, com um número de ataques maior e com criação de mais oportunidades de golo. Assim, baseando neste argumento, podemos traçar uma estratégia para os ataques posicionais e outra para os ataques rápidos, sendo cada uma dessas estratégias especialmente orientadas pela vertente psicológica. Cada uma das estratégias será ideal para usar quando o treinador pretende criar alta performance no rendimento dos atletas, criando hábitos de pensar e preparar o jogo, assim como hábitos para se concentrarem no jogo. São duas entre dezenas de estratégias possíveis para criar excelentes processos de jogo dentro de um plantel.


       Como treinar o ataque posicional

       Se o leitor pretende ter uma equipa que ataca posicionalmente, uma excelente método será organizar a sua equipa num jogo onde essa equipa simula que está a perder. Por exemplo, vamos dividir o plantel em duas equipas, uma que vai fazer o ataque posicional como pretendemos, e outra que vai servir de obstáculo, como único objetivo é contra-atacar. Adicionando a isto, a equipa que ataca posicionalmente simula que está a perder 1-0 e tem apenas 5 ou 10 minutos para, pelo menos empatar.

       A condição do exercício é, quer a equipa atacante queira ou não, será organizar o seu jogo, tanto para defender como para atacar. Uma vez que a equipa contrária está pronta para contra-atacar, o resultado é negativo e existe pouco tempo para recuperar esse resultado, que felizmente é curto, o risco de perder a bola é muito elevado, pois isso indica probabilidade de sofrer um golo, e caso isso aconteça, é muito provável a equipa ficar a perder 2-0 e com isso ser incapaz de recuperar o resultado.

       Quanto ao treinador, pede quais são os processos que a equipa deve utilizar, quais são os jogadores responsáveis por cada parte de um processo, e por aí adiante. A única condição é fazer a equipa enfrentar outra equipa, que está a ganhar, e que pode resolver o jogo a qualquer momento.

       Para isso, precisa de se organizar, ligar os vários setores, para que os jogadores responsáveis pelos processos ofensivos possam atacar com liberdade, sabendo que estão protegidos se perderem a bola. Estamos portanto, perante uma situação com pressão psicológica, onde os jogadores são obrigados a afastar a pressão de um resultado negativo para se reorganizarem como um todo para que então possam vencer uma partida complicada. Mais tarde, este exercício pode ser evoluído para um resultado negativo com diferença de golos maior, obrigando os jogadores a fazer mais de um golo e a pensarem ainda mais depressa


 
 
       Como treinar o ataque rápido
       O ataque rápido não envolve os mesmos princípios de jogo que o ataque posicional, ou pelo menos, os princípios de jogo não são envolvidos da mesma forma. Se o ataque posicional necessita de se organizar para atacar, o ataque rápido precisa ser explosivo e objetivo. Para isso, podemos utilizar novamente o contrarrelógio para desenvolver o ataque rápido da equipa.
       Em uma situação semelhante à do ataque posicional, uma equipa organiza-se para atacar e outra organiza-se para defender. A equipa que pretendemos treinar o nosso processo de ataque rápido é a equipa que ataca. Para a equipa que defende podemos treinar pressing forte para dificultar a tarefa da equipa que ataca

 
Então vamos dividir o grupo em duas equipas, e indicar à equipa que vai atacar, quais são os processos de ataque que o treinador pretende. Por exemplo, três ataques variados pelo lado direito, duas situações nas costas da defesa e dois cruzamentos através do meio-campo, não importa de onde. Importa sempre é que cada processo ofensivo que o treinador pediu seja completo, com situação de finalização onde a bola vá à baliza.
       Entretanto, para que este exercício seja completo, a equipa tem novamente apenas 5 ou 10 minutos para realizar todos os ataques que o treinador pretende, perante uma equipa bem organizada. Por sua vez, a equipa que defende, o único objetivo é recuperar a posse de bola, e a partir daí, fazer a bola circular, fazendo a equipa atacante perder tempo para realizar todos os seus processos ofensivos. Assim, obrigamos a equipa atacante a atacar bem e a recuperar a posse de bola rápido, para que possa iniciar sempre mais um ataque, novamente com um limite de tempo para o fazer


       Análise final
       Após a análise a ambas as estratégias, sabemos que ambas as situações são complicadas para a equipa que ataca, e que ambas as situações impõem um limite de tempo para os jogadores. Quer os jogadores queiram ou não queiram, são obrigados a concentrar-se unicamente no jogo para que os seus objetivos possam ser propostos. Para
ambos os casos, cada equipa precisa ser rápida a agir e a pensar, algo que já explicamos em quatro razões porque as melhores equipas são muito fortes na antecipação. Por sua vez, obriga também as equipas a jogar de forma organizada entre os quatro momentos de jogo.


 
 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

A IMPORTANCIA DO TREINO NA FORMAÇÃO DO ATLETA E DA EQUIPA


       Um treinador não deve saber apenas de futebol. Para saber futebol, tanto treinadores como jogadores devem estudar e estudar muito além de praticar bastante. O que fazer e como fazer são pontos de vista importantes, cujas próprias questões procuram respostas para a evolução da organização tática. Mais do que um treinador de futebol, o mister é um líder, e como em qualquer profissão, um líder deve ser capaz de perceber o que ele mesmo sabe, perceber quais as lacunas da sua equipa ou o que cada um dos seus subordinados não sabe, perceber que o grupo não tem a mesma responsabilidade como ele, e mais importante que tudo, até que o conhecimento sobre as matérias e pessoas sobre as quais lidera: deve ser capaz de transmitir a mensagem sobre as suas ideias, filosofias e pensamentos. Sobre futebol qualquer um sabe ou pelo menos tem algumas ideias. E dar ordens qualquer um dá, sejam boas ou más. Mas nem todos sabem mandar e muito menos são aqueles que
 são capazes de fazer a mensagem ser recebida pelo recetor, ou seja, o seu subordinado.

Por exemplo, servirá ao treinador saber qual é o modelo de jogo que quer para a sua equipa, mesmo sendo o melhor modelo de jogo do mundo, se não é capaz de começar um treino com uma palestra e continuar com os exercícios necessários para que a equipa aprenda a jogar a sua maneira? Ou então, com um exemplo mais prático: o chefe. De que serve ao chefe saber tudo sobre negócios, se não é capaz de reconhecer o valor de cada um dos seus funcionários e ainda por cima dar ordens erradas?



       Para uma equipa de futebol, o mais importante é ter um modelo de jogo bem definido, com um conjunto de princípios bem definidos que organizam a equipa de determinada forma. A idealização de um modelo de jogo por um treinador parte sempre da sua filosofia, da cultura do clube e da pressão social, como os adeptos e os média. Só existe uma forma de idealizar um modelo de jogo dentro de um plantel, sendo a forma como o treinador deve passar a mensagem sobre as suas ideias aos seus jogadores, que é através do treino. Operacionalizar o modelo de treino é a forma mais eficaz de inserir o modelo de jogo no seio do grupo, além de algumas vantagens que sempre vem junto.



Formas de defender, formas de atacar, formas de comunicar entre os jogadores e todas as ideias que surgem na mente do treinador apenas são conseguidas através do treino, e, independentemente se o treinador foi ou não jogador de futebol, a capacidade de liderança de um grupo é a chave secreta que distingue os treinadores normais dos melhores treinadores do mundo. Muitos dos melhores treinadores do mundo nem são mestres táticos, mas são mestres em identificar erros e lacunas e a corrigir esses defeitos da equipa, treinando várias formas de jogar que todas juntas formam uma equipa.



       Qualquer equipa funciona com a ligação entre as partes e o todo, sendo as partes cada jogador e o todo o plantel ou então os jogadores que disputam a partida. Através do treino, o treinador deve interiorizar cada uma das suas ideias em cada jogador, ideias essas que ensinam o jogador a jogar em equipa sem o desligar da sua qualidade individual. Aliás, o treinador deve fazer uso da qualidade individual de cada jogador e assim construir o plural baseado no singular da equipa, sendo capaz de fazer a ligação correta entre a própria filosofia, a qualidade do plantel e os objetivos do grupo. Assim, podemos concluir que através do treino é possível formar cada um dos jogadores, de forma a que o seu rendimento auxilie no rendimento da equipa, e ao mesmo tempo, o rendimento da equipa valorizará o próprio atleta.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

O treinador da Moda em ENTREVISTA


Da metodologia de treino ao trabalho exaustivo em prol da evolução dos jogadores, passando pela liderança, pela análise dos jogos e pela aplicação da cinética no futebol, eis um verdadeiro manual da Kloppologia.


Sr. Klopp, queremos falar consigo sobre Futebol.

JK: Ora aí está algo de novo! Já estou quase habituado a que os media se interessem apenas por informação cor-de-rosa: quanto é que custou um jogador ou quem é que foi visto com quem na discoteca.

 Em poucos dias começará a nova época da Bundesliga. A última época foi marcada pelo epíteto de futebol de sistema e também pela frase de Jürgen Klinsmann “cada jogador, a cada dia, pode melhorar um pouco”. Neste momento, Klinsmann já foi substituído, mas fica a pergunta: o que significa concretamente “melhorar um jogador de futebol”?

JK: Em público, existe sempre uma tendência para se falar, do ponto de vista teórico, no sistema, no modelo de jogo e no papel do treinador e dos jogadores. Mas raramente é questionado para que serve determinado exercício prático, um treino ou o que retiras disso para desenvolver ou formar um jogador.



 E…?

JK: A minha regra pedagógica basilar consiste, numa primeira fase, em que é bem mais importante enaltecer as qualidades do jogador do que apontar-lhe os pontos fracos e criticar-lhe as falhas. Não podemos dizer ao jogador: “Isto tu não sabes fazer” ou “Isso não vais conseguir fazer”. Quando eu, enquanto treinador, acredito num jogador e que ele poderá evoluir, ao mostrar-lhe como poderá desenvolver as suas capacidades ganho a sua confiança. Se ele sente essa confiança, vai evoluir e crescer como jogador. E, no momento da verdade, vai acreditar em mim e, seguidamente, em si mesmo.

 Mas uma auto-confiança elevada não substitui o talento. O que acontece aos pontos fracos dos jogadores?

JK: A autoconfiança, para mim, é determinante. Depois, sim, trabalhamos os pontos fracos. Várias vezes, muitas vezes. São exercitados, repetidamente. Tenho um excelente exemplo no plantel: o nosso central Felipe Santana. Ele é verdadeiramente um atleta excecional. Tem grande capacidade física, o que lhe permite ser bem-sucedido nos lances homem-a-homem. Teve porém que dissimular as suas limitações técnicas. Para corrigir as deficiências, só tivemos que lhe fazer duas perguntas: Qual é a função de um defesa central? e Por que é que ele é um jogador crucial na equipa? A resposta é imediata: o defesa central é, quase sempre, o nosso último recurso. Quando perdes a bola ou se não a souberes parar convenientemente, é praticamente certo que o adversário vai ter uma oportunidade para marcar um golo. Nessa posição, é crucial ter jogadores com um nível técnico considerável. Isso analisa-se com base em três parâmetros: receção/controlo da bola, condução da bola e passe. E foi isso que fizemos com o Felipe Santana. Treinar controlo, condução e passe. Várias vezes, muitas vezes…


 Os colegas não gozam com o jogador?

JK: Isso é um disparate. Não, ninguém goza ou se ri neste tipo de treino, porque pode acontecer a qualquer um. E acontece! Treino é repetição. Isso é válido para atletas e para músicos. Vi, recentemente, um filme sobre um baterista que repetia as sequências individuais 1600 vezes, até que estivessem verdadeiramente interiorizadas. Aí, ele já não pensa mais. Apenas tocava. Simples: badambadam, badambadam, badambadam. Repetição, repetição. As coisas também funcionam assim no futebol. Não precisas treinar 1600 vezes, mas, depois do treino, proponho ao Felipe Santana 60-70 bolas desde posições diferentes. E ele vai ter que conseguir reagir sempre: receber, conduzir e passar.

 Isso é suficiente?

JK: Claro que não é suficiente para corrigir as deficiências do jogador, mas consegues algo muito importante: o jogador envolve-se e passa a saber lidar melhor com os seus pontos fracos. O jogador tem que reconhecer estes pontos fracos. Saber viver com eles

 Agora ele consegue parar a bola…

JK: A técnica é, do meu ponto de vista, o primeiro pré-requisito para um futebolista. A arte, se quiser. Depois, segue-se o segundo passo: a inteligência de jogo. E aí há uma necessidade de melhorar individualmente, como também do ponto de vista coletivo. Seja com toda a equipa, seja com parte da equipa. Depois, também possuímos recursos sofisticados para realizar uma análise vídeo top do ponto de vista individual e coletivo, em que utilizamos múltiplas câmaras que estão instaladas no estádio apenas com esse propósito.

 Antes de fazer a análise em equipa, tem que ver o vídeo de jogo. Quanto tempo dura essa tarefa?

JK: Para que um vídeo de um jogo de 90 minutos fique devidamente visto, não o posso ver corrido. Paro, volto atrás, avanço. Paro, volto atrás, avanço. Demoro 5 horas a analisar e a esmiuçar um jogo de forma a apreender tudo.

ZM: Quando é que faz isso?

JK: Quando jogamos ao sábado, faço a análise do nosso jogo ao domingo. Às terças-feiras, vemos as imagens da equipa relativas ao último jogo. Reúno os jogadores e observamos duas sequências: o que fizemos bem e o que fizemos mal. Da mesma forma, faço reuniões por sector. Por exemplo, reúno-me inúmeras vezes com os quatros defesas para lhes mostrar como reagiram às situações do jogo. É fundamental definirmos os tempos certos, para que a linha de quatro funcione na perfeição: não se podem mover demasiado rápido, nem de forma demasiado lenta. No que diz respeito a análises individuais, temos um registo de gravações de todos os jogadores. De todas as suas ações. Uma a uma.

 Faz uma crítica individual perante toda a equipa?

JK: Quando tecemos críticas, gostamos de as fazer em frente a todo o plantel. A nossa crítica é feita ao comportamento posicional, nunca é uma crítica à pessoa. O trabalho de desenvolvimento funciona por meio de feedback e de correções.



 Qual é a frequência dos treinos?

JK: Faço dois treinos à terça-feira. À quarta-feira, fazemos cinética e uma unidade de treino. À quinta um treino e à sexta outro. Ao sábado é o jogo.

 Cinética?

JK: A cinética é fundamental na minha metodologia de treino. O professor Horst Lutz apresentou-nos um método fabuloso, chamado Life Kinetik, que obteve excelentes resultados com esquiadores alemães como Felix Neureuther. Isto envolve a concentração e a coordenação, como também a educação ocular (treino do olho). Aparentemente, isto parece ter muito pouco a ver com futebol. Por exemplo, nós praticamos formas bastante complexas de malabarismo (pegar em dois cubos de açúcar, atirá-los ao ar e agarrá-los com as mãos cruzadas), o que permite aprender a diferenciar perceção e movimentação, cérebro e aparelho motor. Tudo isto se treina.

 Isso faz sentido para os jogadores?

JK: (risos) Isso é a parte prática da autoridade: se eu quero que seja feito, é feito. Isso permite que os jogadores se apercebam que isso os ajuda a melhorar o seu posicionamento, a ter maior velocidade de reação, a reagir mais rapidamente, a ter uma perspetiva mais acurada e uma melhor visão geral do jogo. Tudo isto reunido acaba por fortalecer a minha autoridade. A inteligência dos jogadores de futebol é francamente subvalorizada. As pessoas julgam-nos pelas declarações que fazem no final dos jogos, muitas vezes por responderem a perguntas muito pouco inteligentes. Experimentem pôr um microfone à frente do nariz de um cirurgião imediatamente após uma operação de duas horas ao coração. Ele é quem nos salva a vida. Mas dele, nessa circunstância, também não ouviriam as melhores respostas.

No que diz respeito a jogadores inteligentes e adultos, há uma predisposição para questionarem decisões ou para pedirem alguns privilégios?

JK: O exemplo típico é o da reserva e da ocupação de quartos e camas em estágios. Se não houvesse um critério, todos escolheriam quartos individuais. Eu faço questão que não haja quartos individuais. Reservo sempre quartos com duas camas e faço questão que um jogador não escolha o seu parceiro. Por isso, sou eu quem define os pares que ocupam os quartos… Se não o fizesse, pode imaginar o que daí resultaria.



 Na última temporada havia exceções?

JK: Havia duas. Os dois jogadores que ressonavam. Assim não dá! Num estágio é preciso dormir e descansar bem. Por isso, receberam ambos um quarto individual. Assim, podiam ressonar à vontade. Para definir a escolha dos quartos, faço um sorteio no início de cada época, o que se tornou num verdadeiro ritual. Encenamos um sorteio das competições europeias: temos o “que joga em casa”, que é o primeiro a ser sorteado e que se senta à frente, de olhos tapados, à espera de saber quem lhe calha na rifa. Ou seja, “quem joga fora”. Depois, há gritos e cenas de júbilo. Isso acabou por tornar-se num evento extremamente divertido.

 Em criança ou durante a sua juventude reconhecia autoridade em alguém?

JK: O meu pai era um desportista de corpo e alma. Muito completo. Um treinador de corpo e alma. Muito completo. Foi quem me mostrou e ensinou tudo: futebol, ténis e esqui. Ele era completamente irresponsável: quando esquiávamos, só via o seu anoraque vermelho. Das pistas de esqui não via nada.

 Como assim?

JK: Ele ultrapassava-me e, com isso, procurava levar-me em frente. Nunca esperava por mim. Era completamente irrelevante o facto de eu ser um principiante. Ele passava por mim disparado. E eu via sempre as costas daquele anoraque vermelho. Ele queria que eu fosse um esquiador perfeito. E fizemos sprints e corridas… no campo de futebol. A partir da linha de fundo até ao meio-campo. Na minha primeira corrida, já ele tinha chegado ao meio-campo e eu ainda estava a chegar à entrada da grande área. Isso para ele era muito mau. Ele gostava muito de mim e eu sabia disso. Mas não tinha nenhuma consideração por mim: nem me protegia, nem me deixava ganhar.

 Desagradável!

JK: Apenas por sorte é que aquilo que o meu pai queria que eu fizesse me trazia divertimento. Já aí, eu amava o futebol, mais do que qualquer outra coisa, mas naturalmente que não tinha paciência para ao domingo, às 8 da manhã, estar a treinar toques de cabeça!

 Quando o ouvimos falar, pela descrição que faz do seu pai, sentimos uma incrível semelhança refletida no seu comportamento em relação aos seus jogadores: uma mistura entre exigência e proximidade, rigidez e afeto.

JK: Hmm… A sério? Se calhar, tem razão!

 O seu pai era apenas ambicioso ou era um verdadeiro amante de desporto?

JK: Quando o meu pai já estava com um cancro em fase avançada, decidiu disputar com a sua equipa de seniores um jogo de “masters”. Ele adorava ténis e essa foi a sua forma de despedida da vida. O mais importante era que a desfrutasse. Um dia, quando já estava no hospital, chamou-me junto de si e falou-me do seu funeral. Disse-me que músicas deviam ser tocadas – um solo de trompete de Helmut Lotti e a “Time to say goodbye”. Deu-me também a fotografia que deveria ir sobre o seu caixão: mostrava-o ainda no auge da sua vivacidade. O meu pai era muito vaidoso e ainda disse em tom de brincadeira: «se alguém abre o caixão, vai haver sarilho!». Aí, eu senti a responsabilidade de ser o único homem que restava na família. Na Floresta Negra, onde nasci e cresci, a morte não é um tema que os homens discutam com as mulheres.

 Consegue aceitar a morte como algo inalterável e definitivo?

JK: Oh… Eu até sou crente. Mas aceitar a imutabilidade da morte parece-me incrivelmente difícil.



 O que é para si a fé?

 A fé é simplesmente certeza. Não trago essa ideia desde os tempos de infância, mas em algum momento da minha vida tive essa ideia. Para mim significa – por mais patético que isso soe – que devo fazer tudo o que está ao meu alcance para mudar o lugar onde estou para melhor. Para mim, em variadíssimas situações, é importante que as pessoas que me rodeiam estejam bem. Eu estou sempre bem. Desejo verdadeiramente fazer um trabalho que torne o Mundo melhor. Infelizmente, esse desejo não significa que seja bem-sucedido na tarefa de aceitar que há coisas – como as doenças ou a dor – que não posso mudar.

 Este desejo de melhorar as coisas, esta vontade de melhorar a vida das pessoas tem também consequências políticas?

JK: Eu nunca escolheria um partido, apenas para me sentir melhor. Ora, quando um partido promete reduções dos impostos para os escalões mais elevados de tributação – aos quais eu vou pertencendo – isso não é motivo suficiente para que eu o escolha.

 Qual é a perceção que tem da realidade política e social fora do seu mundo protegido do futebol?

JK: Nós vivemos na zona do Ruhr. Observamos, claro, as pessoas que vão ver os treinos todos os dias. É claro que essas pessoas não são veraneantes em férias. São pessoas que não têm trabalho. A essa realidade não podemos fechar os olhos. Os jogadores sabem exatamente quão dura é realidade da vida das pessoas agora durante esta crise financeira.

 Por favor, Sr. Klopp!!!

JK: Absolutamente! Não preciso de encenar o interesse. Os meus jogadores não precisam de posar para a fotografia com a cara manchada de carvão. As pessoas da região não precisam desse tipo de pseudo-compaixão. O que nós podemos fazer é proporcionar-lhes momentos de distração. Dar-lhes alegrias. Os nossos fãs ganham connosco, perdem connosco e jogam connosco. Temos a tarefa, nestes momentos, de criar momentos tão agradáveis quanto possível. E essa é uma tarefa monumental.

 Também transmite essa mensagem aos jogadores?

JK: Não. Não preciso. Eles sabem-na interiormente. Também não posso agir como se eles fossem solucionar os problemas das pessoas! Apenas podemos ajudá-las a não olhar para esses problemas de forma tão gravosa. Recentemente, recebi uma mensagem de um fã que era beneficiário do Hartz IV e que contava que tinha comprado um bilhete de época do Borussia Dortmund.

E…?

JK: Ora, na realidade, tive que dizer imediatamente que ele não estava bom da cabeça e devia gastar o seu parco dinheiro em coisas mais importantes. Mas eu sei que nós trazemos alegria à vida dele. Não posso mudar a situação política, não posso mudar nada na realidade social, mas posso fazer estas pessoas muito felizes por alguns momentos.















 

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