Atualmente
as metodologias de treino desportivo, principalmente os desportos coletivos
como o futebol valorizam muito mais a interação das dimensões técnica, tática,
física e psicológica na construção dos exercícios de treino em detrimento do
desenvolvimento separado de cada uma das dimensões, pelo que por exemplo, neste
momento as equipas não desenvolvem a dimensão física descontextualizada da
especificidade do jogo, isto é, cada vez menos existem treinos físicos de
corrida, de circuitos ou treinos na praia ou no jardim da cidade.
É
precisamente sobre o controlo da dimensão física, que temos e devemos ter
sempre em conta, que irei escrever. Como varia a intensidade nos jogos
condicionados ou jogos reduzidos quando manipulamos variáveis como o espaço, o
número de atletas, o feedback ou as condicionantes do exercício? A base do
controlo da dimensão física são os indicadores da intensidade tais como a
frequência cardíaca, o lactato, a perceção subjetiva de esforço (Escala de
Borg), o tipo de movimento (andar, correr, sprint), sendo através destes que
avaliamos a intensidade dos jogos reduzidos.
Alguns
estudos têm obtido alguns resultados importantes e interessantes sobre este
tema.
Olhando
à manipulação da variável espaço, o que devemos analisar será o que acontece
aos indicadores fisiológicos quando mantemos o mesmo número de jogadores e
aumentamos as dimensões do exercício, ou quando a relação espaço/jogador é
aumentada. Segundo um estudo de revisão publicado em 2011 no Journal of Sports
Medicine, a maioria dos estudos desenvolvidos indica um aumento da frequência
cardíaca, do lactato e da perceção subjetiva de esforço com o aumento do
espaço. Por exemplo, um estudo interessante realizado por Rampinini e
colaboradores (2007) verificaram que tanto num exercício de 3x3 como 6x6,
aumentando o espaço em 20%, a frequência cardíaca e a concentração de lactato apresentou
valores superiores no espaço de dimensões superiores comparativamente com o
espaço de dimensões médias e reduzidas.
O nº de jogadores tem sido também uma das variáveis mais estudadas que podem influenciar a intensidade do exercício de treino. Os principais estudos parecem revelar valores superiores nos indicadores que determinam a intensidade quando o nº de jogadores diminui. No entanto, este aumento nos indicadores de intensidade com a diminuição do nº jogadores parece estar dependente do espaço de jogo, isto é, existem determinadas dimensões do exercício que vão ao encontro da redução da intensidade com o aumento do nº jogadores envolvidos e existem outras dimensões em que não existem evidências significativas na redução da intensidade. Dando um exemplo de um estudo realizado por Owen e colaboradores (2004), concluíram que houve uma redução mais evidente da frequência cardíaca de uma situação 2x2 para uma de 3x3 e para 4x4 num espaço de 25x20 metros, comparativamente com 2x2 para 3x3 em 20x15 metros e 3x3 para 4x4 em 30x25 metros onde as reduções na frequência cardíaca não foram significativas.
A interação das variáveis tempo e espaço, onde o aumento do espaço é proporcional ao aumento do nº jogadores, mantendo-se desta forma a área relativa por jogador, parece indicar-nos uma diminuição da intensidade com o aumento do espaço e nº de jogadores. Por exemplo, Hill-Haas e colaboradores (2009) estudaram a intensidade dos jogos reduzidos com variação do número de jogadores (2x2; 4x4; 6x6) mas mantendo a relação espaço de jogo/jogador, concluindo que a intensidade do exercício é tanto maior quanto menor o nº de jogadores, como foi verificado nos principais indicadores de intensidade, a % da frequência cardíaca máxima, os valores do lactato ou a perceção subjetiva de esforço dos jogadores.
Outras variáveis que têm sido amplamente estudadas para avaliar a intensidade dos jogos reduzidos são o feedback do treinador durante os exercícios e as condicionantes colocadas no próprio exercício. Analisando o feedback, numerosos estudos indicam-nos que uma atitude ativa do treinador sobre os jogadores, incentivando-os e dando informações contribui para um aumento da intensidade do treino. Um dos estudos que demonstra o referido é o de Rampinini e colaboradores (2007) que analisaram diversas situações de jogo (3x3, 4x4, 5x5, 6x6) com presença de feedback ou sem presença de feedback do treinador e em todas as situações de jogo os indicadores de intensidade (% Frequência Cardíaca Máxima, Lactato, Perceção subjetiva de esforço) foram superiores com a presença de feedback do treinador. Quanto às condicionantes colocadas no exercício que podem influenciar a intensidade, uma das mais estudadas é a presença ou não de GR, isto é exercícios apenas de manutenção de posse de bola ou exercícios com balizas e GR, e os estudos realizados são algo contraditórios, no entanto parece haver uma ligeira tendência para um aumento da intensidade do exercício sem a presença do alvo (baliza) e do GR.
Concluindo, estes dados são muito interessantes, no entanto é necessário referir que os estudos sobre este tema têm procedimentos metodológicos muito diferenciados o que origina alguma variabilidade nos resultados levando por isso a conclusões diferenciadas. O que podemos destacar?
1 –
Aumento da intensidade com feedback do treinador;
2 –
Aumento do espaço e número em simultâneo contribui para um decréscimo da
intensidade;
3 –
Aumento do espaço mantendo o nº de atletas resulta num aumento da intensidade
do exercício.
Mais do que tudo isto dito que penso ter
todo o interesse, a pergunta que faço é a seguinte: É possível treinar
resistência, força, velocidade no futebol através de exercícios específicos e
contextualizados como os jogos reduzidos? A minha resposta é claramente
positiva, desde que controlem criteriosamente a intensidade destes exercícios
através dos indicadores referidos acima, para que percebam quais os exercícios
que devem ser utilizados tendo em conta o objetivo físico da sessão de treino.
Sem comentários:
Enviar um comentário