A
defesa à zona é uma forma de organização defensiva onde o condicionamento
espaço-temporal na zona e nas zonas próximas da bola, a coordenação entre
companheiros de equipa e o controlo dos espaços mais afastados da bola e do
adversário são princípios chave deste tipo de organização defensiva.
Embora
os princípios que sustentam este tipo de organização defensiva se mantenham
inalteráveis, existem diferentes manifestações da defesa à zona em jogo, que
diferem essencialmente ao nível do ritmo, da localização e da intenção.
A
grande evolução nesta forma de organização defensiva à zona deu-se ao nível do
ritmo e da intenção, onde aos princípios gerais falados anteriormente
introduziram o conceito de pressing, onde o aumento da velocidade de
encurtamento de espaços sobre o portador da bola e zonas próximas, bem como uma
atitude mais ativa na recuperação da bola foram os grandes pontos de evolução.
Isto é confirmado nas palavras de Valdano (2002) quando afirma que a defesa à
zona passiva, de espera pelo erro adversário, foi dando lugar a uma zona
agressiva com uma atitude mais ativa e mais pressionante sobre portador da bola
e as zonas mais importantes, que alguns autores denominaram de Zona
Pressionante.
É
nesta forma de manifestação de defesa à zona que eu queria esclarecer alguns
possíveis equívocos.
Zona
pressionante não é pressing alto, já que a zona pressionante pode acontecer em
qualquer parte do terreno de jogo, depende apenas das ideias e princípios de
organização defensiva do treinador para a sua equipa, nomeadamente na
localização das zonas de pressing para recuperar a posse de bola. O pressing
alto é defender com o objetivo de recuperar a posse de bola o mais próximo
possível da baliza do adversário e imediatamente após a perda da posse de bola,
podendo ser manifestado defendendo à zona ou individualmente. Portanto, na
defesa à zona pressionante, o pressing alto tem a ver com a criação de
superioridade numérica na zona da bola, com o aumento da velocidade de
deslocamento para diminuir espaço e tempo ao portador da bola e com a clara
intenção de recuperar a bola no 1º terço do campo do adversário (setor
defensivo) e imediatamente após a perda da bola. Um bom exemplo desta forma de
defender foi o Barcelona quando Guardiola era o treinador, ou o Porto de André
Vilas Boas ou José Mourinho.
Outra
noção errada, está relacionada com a defesa à zona pressionante em pressing
alto criar maior desgaste do ponto de vista físico. Dou a resposta com
perguntas: Qual das equipas corre mais, se após todas as perdas de bola, uma
delas recua no terreno e estabelece zonas e momentos de pressão no ½ campo
defensivo, e a outra pelo contrário procura recuperar a bola na zona onde
perdeu? Quem vai estar mais longe da baliza adversária quando recuperar a bola
e percorrer maiores distâncias para finalizar?
Parece-me claro que a zona pressionante em pressing alto se for eficaz (recuperação da bola), a equipa não realizará tantos deslocamentos porque a zona/setor da perda da bola é a mesma da zona/setor da recuperação da bola e por isso estaremos a jogar em 20-30 metros, logo a economia de esforço será maior. No entanto, o maior ou menor desgaste físico está relacionado sempre com a forma como gerimos os momentos de jogo. Imaginemos que a minha equipa faz zona pressionante em pressing alto, mas que após a recuperação da bola não a consegue manter mais que 5-10 segundos, será que conseguirá manter a mesma eficácia defensiva ao longo do jogo? Impossível. Era a mesma coisa que um velocista fazer uma prova de 100 metros a cada minuto e fazer o mesmo tempo em cada uma das provas.
Quero dizer com isto, que é fundamental adaptar o momento de atacar ao momento de defender e vice-versa. A zona pressionante em pressing alto exige alta intensidade, velocidades de deslocamento elevadas dos jogadores com durações curtas, pelo que do ponto de vista fisiológico, é impossível repetir com eficácia sem haver recuperação. Neste sentido, o ataque organizado, a manutenção da posse de bola vai potenciar essa recuperação e consequentemente o momento em que voltamos a defender.
Para
finalizar, se o desgaste físico da zona pressionante em pressing alto, ou zona
pressing alta, é menos evidente que outros tipos de organização defensiva, já
não podemos falar de igual modo no desgaste mental.
Digo
isto, porque para além da intensidade relacionada com o desgaste energético,
existe a intensidade relacionada com a concentração, e a complexidade de uma
defesa organizada à zona é muito maior que uma defesa individual, e se
associarmos à defesa à zona o pressing alto de uma forma coletiva essa
exigência de concentração ainda é maior, tudo porque tem de haver grande
coordenação entre jogadores da mesma equipa, e no momento adequado de
pressionar, todos os jogadores tem de agir com rapidez em concordância com um
objetivo comum, a recuperação da posse de bola.
Pontos-Chave
Zona
pressionante é uma forma de organização defensiva que mantém as linhas
orientadoras da defesa à zona, aumentando apenas a agressividade sobre as zonas
próximas da bola, através do aumento da velocidade/ritmo de encurtamento de
espaços.
A
zona pressionante não é a mesma coisa que pressing alto.
A
eficácia da zona pressionante com pressing alto é menos desgastante fisicamente
mas mais desgastante mentalmente.
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