terça-feira, 3 de maio de 2016

Zona Pressionante, Pressing Alto e o Desgaste Físico e Mental

A defesa à zona é uma forma de organização defensiva onde o condicionamento espaço-temporal na zona e nas zonas próximas da bola, a coordenação entre companheiros de equipa e o controlo dos espaços mais afastados da bola e do adversário são princípios chave deste tipo de organização defensiva.
 
Embora os princípios que sustentam este tipo de organização defensiva se mantenham inalteráveis, existem diferentes manifestações da defesa à zona em jogo, que diferem essencialmente ao nível do ritmo, da localização e da intenção. 
 
A grande evolução nesta forma de organização defensiva à zona deu-se ao nível do ritmo e da intenção, onde aos princípios gerais falados anteriormente introduziram o conceito de pressing, onde o aumento da velocidade de encurtamento de espaços sobre o portador da bola e zonas próximas, bem como uma atitude mais ativa na recuperação da bola foram os grandes pontos de evolução. Isto é confirmado nas palavras de Valdano (2002) quando afirma que a defesa à zona passiva, de espera pelo erro adversário, foi dando lugar a uma zona agressiva com uma atitude mais ativa e mais pressionante sobre portador da bola e as zonas mais importantes, que alguns autores denominaram de Zona Pressionante.
 
É nesta forma de manifestação de defesa à zona que eu queria esclarecer alguns possíveis equívocos. 

Zona pressionante não é pressing alto, já que a zona pressionante pode acontecer em qualquer parte do terreno de jogo, depende apenas das ideias e princípios de organização defensiva do treinador para a sua equipa, nomeadamente na localização das zonas de pressing para recuperar a posse de bola. O pressing alto é defender com o objetivo de recuperar a posse de bola o mais próximo possível da baliza do adversário e imediatamente após a perda da posse de bola, podendo ser manifestado defendendo à zona ou individualmente. Portanto, na defesa à zona pressionante, o pressing alto tem a ver com a criação de superioridade numérica na zona da bola, com o aumento da velocidade de deslocamento para diminuir espaço e tempo ao portador da bola e com a clara intenção de recuperar a bola no 1º terço do campo do adversário (setor defensivo) e imediatamente após a perda da bola. Um bom exemplo desta forma de defender foi o Barcelona quando Guardiola era o treinador, ou o Porto de André Vilas Boas ou José Mourinho.



Outra noção errada, está relacionada com a defesa à zona pressionante em pressing alto criar maior desgaste do ponto de vista físico. Dou a resposta com perguntas: Qual das equipas corre mais, se após todas as perdas de bola, uma delas recua no terreno e estabelece zonas e momentos de pressão no ½ campo defensivo, e a outra pelo contrário procura recuperar a bola na zona onde perdeu? Quem vai estar mais longe da baliza adversária quando recuperar a bola e percorrer maiores distâncias para finalizar? 


Parece-me claro que a zona pressionante em pressing alto se for eficaz (recuperação da bola), a equipa não realizará tantos deslocamentos porque a zona/setor da perda da bola é a mesma da zona/setor da recuperação da bola e por isso estaremos a jogar em 20-30 metros, logo a economia de esforço será maior. No entanto, o maior ou menor desgaste físico está relacionado sempre com a forma como gerimos os momentos de jogo. Imaginemos que a minha equipa faz zona pressionante em pressing alto, mas que após a recuperação da bola não a consegue manter mais que 5-10 segundos, será que conseguirá manter a mesma eficácia defensiva ao longo do jogo? Impossível. Era a mesma coisa que um velocista fazer uma prova de 100 metros a cada minuto e fazer o mesmo tempo em cada uma das provas. 
Quero dizer com isto, que é fundamental adaptar o momento de atacar ao momento de defender e vice-versa. A zona pressionante em pressing alto exige alta intensidade, velocidades de deslocamento elevadas dos jogadores com durações curtas, pelo que do ponto de vista fisiológico, é impossível repetir com eficácia sem haver recuperação. Neste sentido, o ataque organizado, a manutenção da posse de bola vai potenciar essa recuperação e consequentemente o momento em que voltamos a defender. 
 
Para finalizar, se o desgaste físico da zona pressionante em pressing alto, ou zona pressing alta, é menos evidente que outros tipos de organização defensiva, já não podemos falar de igual modo no desgaste mental. 
 
Digo isto, porque para além da intensidade relacionada com o desgaste energético, existe a intensidade relacionada com a concentração, e a complexidade de uma defesa organizada à zona é muito maior que uma defesa individual, e se associarmos à defesa à zona o pressing alto de uma forma coletiva essa exigência de concentração ainda é maior, tudo porque tem de haver grande coordenação entre jogadores da mesma equipa, e no momento adequado de pressionar, todos os jogadores tem de agir com rapidez em concordância com um objetivo comum, a recuperação da posse de bola.





Pontos-Chave
 
Zona pressionante é uma forma de organização defensiva que mantém as linhas orientadoras da defesa à zona, aumentando apenas a agressividade sobre as zonas próximas da bola, através do aumento da velocidade/ritmo de encurtamento de espaços.
 
A zona pressionante não é a mesma coisa que pressing alto.
 
A eficácia da zona pressionante com pressing alto é menos desgastante fisicamente mas mais desgastante mentalmente.

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