terça-feira, 3 de maio de 2016

Jogos reduzidos e o controlo da intensidade de treino

Atualmente as metodologias de treino desportivo, principalmente os desportos coletivos como o futebol valorizam muito mais a interação das dimensões técnica, tática, física e psicológica na construção dos exercícios de treino em detrimento do desenvolvimento separado de cada uma das dimensões, pelo que por exemplo, neste momento as equipas não desenvolvem a dimensão física descontextualizada da especificidade do jogo, isto é, cada vez menos existem treinos físicos de corrida, de circuitos ou treinos na praia ou no jardim da cidade.
 



É precisamente sobre o controlo da dimensão física, que temos e devemos ter sempre em conta, que irei escrever. Como varia a intensidade nos jogos condicionados ou jogos reduzidos quando manipulamos variáveis como o espaço, o número de atletas, o feedback ou as condicionantes do exercício? A base do controlo da dimensão física são os indicadores da intensidade tais como a frequência cardíaca, o lactato, a perceção subjetiva de esforço (Escala de Borg), o tipo de movimento (andar, correr, sprint), sendo através destes que avaliamos a intensidade dos jogos reduzidos.

Alguns estudos têm obtido alguns resultados importantes e interessantes sobre este tema.



Olhando à manipulação da variável espaço, o que devemos analisar será o que acontece aos indicadores fisiológicos quando mantemos o mesmo número de jogadores e aumentamos as dimensões do exercício, ou quando a relação espaço/jogador é aumentada. Segundo um estudo de revisão publicado em 2011 no Journal of Sports Medicine, a maioria dos estudos desenvolvidos indica um aumento da frequência cardíaca, do lactato e da perceção subjetiva de esforço com o aumento do espaço. Por exemplo, um estudo interessante realizado por Rampinini e colaboradores (2007) verificaram que tanto num exercício de 3x3 como 6x6, aumentando o espaço em 20%, a frequência cardíaca e a concentração de lactato apresentou valores superiores no espaço de dimensões superiores comparativamente com o espaço de dimensões médias e reduzidas. 

O nº de jogadores tem sido também uma das variáveis mais estudadas que podem influenciar a intensidade do exercício de treino. Os principais estudos parecem revelar valores superiores nos indicadores que determinam a intensidade quando o nº de jogadores diminui. No entanto, este aumento nos indicadores de intensidade com a diminuição do nº jogadores parece estar dependente do espaço de jogo, isto é, existem determinadas dimensões do exercício que vão ao encontro da redução da intensidade com o aumento do nº jogadores envolvidos e existem outras dimensões em que não existem evidências significativas na redução da intensidade. Dando um exemplo de um estudo realizado por Owen e colaboradores (2004), concluíram que houve uma redução mais evidente da frequência cardíaca de uma situação 2x2 para uma de 3x3 e para 4x4 num espaço de 25x20 metros, comparativamente com 2x2 para 3x3 em 20x15 metros e 3x3 para 4x4 em 30x25 metros onde as reduções na frequência cardíaca não foram significativas.

A interação das variáveis tempo e espaço, onde o aumento do espaço é proporcional ao aumento do nº jogadores, mantendo-se desta forma a área relativa por jogador, parece indicar-nos uma diminuição da intensidade com o aumento do espaço e nº de jogadores. Por exemplo, Hill-Haas e colaboradores (2009) estudaram a intensidade dos jogos reduzidos com variação do número de jogadores (2x2; 4x4; 6x6) mas mantendo a relação espaço de jogo/jogador, concluindo que a intensidade do exercício é tanto maior quanto menor o nº de jogadores, como foi verificado nos principais indicadores de intensidade, a % da frequência cardíaca máxima, os valores do lactato ou a perceção subjetiva de esforço dos jogadores. 


 


Outras variáveis que têm sido amplamente estudadas para avaliar a intensidade dos jogos reduzidos são o feedback do treinador durante os exercícios e as condicionantes colocadas no próprio exercício. Analisando o feedback, numerosos estudos indicam-nos que uma atitude ativa do treinador sobre os jogadores, incentivando-os e dando informações contribui para um aumento da intensidade do treino. Um dos estudos que demonstra o referido é o de Rampinini e colaboradores (2007) que analisaram diversas situações de jogo (3x3, 4x4, 5x5, 6x6) com presença de feedback ou sem presença de feedback do treinador e em todas as situações de jogo os indicadores de intensidade (% Frequência Cardíaca Máxima, Lactato, Perceção subjetiva de esforço) foram superiores com a presença de feedback do treinador. Quanto às condicionantes colocadas no exercício que podem influenciar a intensidade, uma das mais estudadas é a presença ou não de GR, isto é exercícios apenas de manutenção de posse de bola ou exercícios com balizas e GR, e os estudos realizados são algo contraditórios, no entanto parece haver uma ligeira tendência para um aumento da intensidade do exercício sem a presença do alvo (baliza) e do GR.
Concluindo, estes dados são muito interessantes, no entanto é necessário referir que os estudos sobre este tema têm procedimentos metodológicos muito diferenciados o que origina alguma variabilidade nos resultados levando por isso a conclusões diferenciadas. O que podemos destacar? 


1 – Aumento da intensidade com feedback do treinador; 


2 – Aumento do espaço e número em simultâneo contribui para um decréscimo da intensidade; 


3 – Aumento do espaço mantendo o nº de atletas resulta num aumento da intensidade do exercício.


Mais do que tudo isto dito que penso ter todo o interesse, a pergunta que faço é a seguinte: É possível treinar resistência, força, velocidade no futebol através de exercícios específicos e contextualizados como os jogos reduzidos? A minha resposta é claramente positiva, desde que controlem criteriosamente a intensidade destes exercícios através dos indicadores referidos acima, para que percebam quais os exercícios que devem ser utilizados tendo em conta o objetivo físico da sessão de treino.




Zona Pressionante, Pressing Alto e o Desgaste Físico e Mental

A defesa à zona é uma forma de organização defensiva onde o condicionamento espaço-temporal na zona e nas zonas próximas da bola, a coordenação entre companheiros de equipa e o controlo dos espaços mais afastados da bola e do adversário são princípios chave deste tipo de organização defensiva.
 
Embora os princípios que sustentam este tipo de organização defensiva se mantenham inalteráveis, existem diferentes manifestações da defesa à zona em jogo, que diferem essencialmente ao nível do ritmo, da localização e da intenção. 
 
A grande evolução nesta forma de organização defensiva à zona deu-se ao nível do ritmo e da intenção, onde aos princípios gerais falados anteriormente introduziram o conceito de pressing, onde o aumento da velocidade de encurtamento de espaços sobre o portador da bola e zonas próximas, bem como uma atitude mais ativa na recuperação da bola foram os grandes pontos de evolução. Isto é confirmado nas palavras de Valdano (2002) quando afirma que a defesa à zona passiva, de espera pelo erro adversário, foi dando lugar a uma zona agressiva com uma atitude mais ativa e mais pressionante sobre portador da bola e as zonas mais importantes, que alguns autores denominaram de Zona Pressionante.
 
É nesta forma de manifestação de defesa à zona que eu queria esclarecer alguns possíveis equívocos. 

Zona pressionante não é pressing alto, já que a zona pressionante pode acontecer em qualquer parte do terreno de jogo, depende apenas das ideias e princípios de organização defensiva do treinador para a sua equipa, nomeadamente na localização das zonas de pressing para recuperar a posse de bola. O pressing alto é defender com o objetivo de recuperar a posse de bola o mais próximo possível da baliza do adversário e imediatamente após a perda da posse de bola, podendo ser manifestado defendendo à zona ou individualmente. Portanto, na defesa à zona pressionante, o pressing alto tem a ver com a criação de superioridade numérica na zona da bola, com o aumento da velocidade de deslocamento para diminuir espaço e tempo ao portador da bola e com a clara intenção de recuperar a bola no 1º terço do campo do adversário (setor defensivo) e imediatamente após a perda da bola. Um bom exemplo desta forma de defender foi o Barcelona quando Guardiola era o treinador, ou o Porto de André Vilas Boas ou José Mourinho.



Outra noção errada, está relacionada com a defesa à zona pressionante em pressing alto criar maior desgaste do ponto de vista físico. Dou a resposta com perguntas: Qual das equipas corre mais, se após todas as perdas de bola, uma delas recua no terreno e estabelece zonas e momentos de pressão no ½ campo defensivo, e a outra pelo contrário procura recuperar a bola na zona onde perdeu? Quem vai estar mais longe da baliza adversária quando recuperar a bola e percorrer maiores distâncias para finalizar? 


Parece-me claro que a zona pressionante em pressing alto se for eficaz (recuperação da bola), a equipa não realizará tantos deslocamentos porque a zona/setor da perda da bola é a mesma da zona/setor da recuperação da bola e por isso estaremos a jogar em 20-30 metros, logo a economia de esforço será maior. No entanto, o maior ou menor desgaste físico está relacionado sempre com a forma como gerimos os momentos de jogo. Imaginemos que a minha equipa faz zona pressionante em pressing alto, mas que após a recuperação da bola não a consegue manter mais que 5-10 segundos, será que conseguirá manter a mesma eficácia defensiva ao longo do jogo? Impossível. Era a mesma coisa que um velocista fazer uma prova de 100 metros a cada minuto e fazer o mesmo tempo em cada uma das provas. 
Quero dizer com isto, que é fundamental adaptar o momento de atacar ao momento de defender e vice-versa. A zona pressionante em pressing alto exige alta intensidade, velocidades de deslocamento elevadas dos jogadores com durações curtas, pelo que do ponto de vista fisiológico, é impossível repetir com eficácia sem haver recuperação. Neste sentido, o ataque organizado, a manutenção da posse de bola vai potenciar essa recuperação e consequentemente o momento em que voltamos a defender. 
 
Para finalizar, se o desgaste físico da zona pressionante em pressing alto, ou zona pressing alta, é menos evidente que outros tipos de organização defensiva, já não podemos falar de igual modo no desgaste mental. 
 
Digo isto, porque para além da intensidade relacionada com o desgaste energético, existe a intensidade relacionada com a concentração, e a complexidade de uma defesa organizada à zona é muito maior que uma defesa individual, e se associarmos à defesa à zona o pressing alto de uma forma coletiva essa exigência de concentração ainda é maior, tudo porque tem de haver grande coordenação entre jogadores da mesma equipa, e no momento adequado de pressionar, todos os jogadores tem de agir com rapidez em concordância com um objetivo comum, a recuperação da posse de bola.





Pontos-Chave
 
Zona pressionante é uma forma de organização defensiva que mantém as linhas orientadoras da defesa à zona, aumentando apenas a agressividade sobre as zonas próximas da bola, através do aumento da velocidade/ritmo de encurtamento de espaços.
 
A zona pressionante não é a mesma coisa que pressing alto.
 
A eficácia da zona pressionante com pressing alto é menos desgastante fisicamente mas mais desgastante mentalmente.

Primeiro Passo para o Sucesso

Já nos tinham pedido há um tempo, e desta vez decidimos falar um pouco do planeamento do nosso trabalho na formação. Começamos pela iniciação, uma das fases mais importantes, na minha opinião, que pode facilitar todo o trabalho que se desenvolve mais para a frente.
 
Temos várias etapas, os treinos têm que ser divertidos e bastante diferentes nestas idades, mas queremos que os nossos atletas vão progredindo ao longo do ano, por isso focamos os treinos numa determinada etapa.
 

As Etapas de Progressão são:

1. Eu-corpo – Foco essencial na coordenação individual, os atletas aprendem a correr, a saltar, têm que aprender por vários padrões motores. É uma fase em que a bola tem que estar presente, como todas, mas que devemos dar mais importância à relação do atleta com o próprio corpo do que com a bola;

2. Eu-bola – Foco especial na relação do nosso atleta com a bola, muitos exercícios de repetição, o método Coerver é uma boa base de orientação. É uma fase em que os miúdos têm uma capacidade de aprendizagem muito apurada e que aprendem os vários skills muito rapidamente;



3. Eu-bola-objetivo – Nesta fase, quando a relação dos miúdos com a bola já começa a melhorar temos de dar-lhe um objetivo (passar por uma baliza com a bola controlada, marcar golo na baliza, mandar um cone abaixo, etc.);



4. Eu-bola-adversário-objetivo – A fase em que se dá mais ênfase ao 1x1, muitos duelos individuais, em que começam a desenvolver a cobertura da bola, os dribles sobre o adversário, sempre com um objetivo;
 


5. Eu-bola-adversário-colega-objetivo – Nesta fase queremos que o atleta desenvolva a capacidade de perceber qual a melhor altura para fazer a jogada individual, driblar e ir para a baliza ou passar ao colega, começamos a tentar melhorar a visão periférica.

Estas fases são apenas orientadoras, são uma forma de se progredir nos treinos ao longo do ano. São objetivos do treino, para se dar um foco especial, mas volto a sublinhar, não nos podemos cingir apenas a estes objetivos, o treino tem que ser sempre variado. E o jogo deve estar presente, como uma forma de estímulo e de diversão.

 
Orientações Metodológicas

Nesta altura existem algumas orientações que devemos ter sempre em atenção:

-Nº reduzido de jogadores;

-Exercícios em espaços amplos;

-Bolas e balizas adequadas ao seu tamanho; 

- Falar sempre de acordo com linguagem que conhecem, é aconselhado o uso de metáforas, começar a ensinar alguma da linguagem específica;

- Nº reduzido de atletas por treinador;

-Muita repetição;

-Muitos jogos lúdicos (adaptar jogos que conheçam);


-Progressão do jogo a 1 para o jogo a 3;
 
-Não esquecer de exercitar as mãos, nesta fase podemos estar treinar tanto jogadores de campo como guarda-redes. Além disso estamos a treinar crianças que precisam de se desenvolver fisicamente. Experienciar vários padrões motores diferentes;
 
-Devemos nesta fase inicial começar a ensinar já alguns princípios de jogo específicos (Progressão, Contenção) e os princípios gerais (Campo Grande e Campo Pequeno).
 
Operacionalização
 
Nesta fase decidimos destacar quatro tipos de exercício que devemos utilizar:
 
-Coordenação com e sem bola (Coerver é uma boa solução)
 
· Arcos, escadas, jogos lúdicos (futebol sem bola, espelhos, macaca, etc.);
 
-Jogos de perseguição
· Apanhada com e sem bola, jogos de 2x1 e 1x0 com um defesa em perseguição, etc.
 
-Jogos posicionais
 
· Este tipo de jogos são bastante úteis para ensinar os nossos atletas a se dispor em campo. Poderemos mapear os campos, utilizar quadrados, etc. e utilizar várias condicionantes para que comecem a perceber o posicionamento que desejamos.
 
-Exercícios por vagas
 
· Estes exercícios são bastante dinâmicos, o exercício é praticamente contínuo. Ajuda-nos a aumentar a intensidade dos nossos atletas, eles percebem que têm que estar constantemente em movimento, à procura da bola, tanto a atacar como a defender.

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