sexta-feira, 1 de março de 2019

Treino Psicológico! Como fazer! Como treinar! Como tirar rendimento!


Treino, quando falamos nesta palavra, muitas vezes o nosso pensamento direciona-se predominantemente para conteúdos referentes à vertente física técnica e tática. Bem… se o treino desportivo é constituído por quadro áreas complementares e integradas – Físico, Técnico, Tático e Psicológico – como poderemos então integrar no Programa de Treinos Anual, esta última vertente?  É aplicável? Como se Aplica? Em que momentos? Fazemos de forma integrada no treino ou individual? Mas então o Psicólogo não é só no gabinete a dar consultas? Como forma de responder ás questões, desafio-me a criar um possível diálogo entre um Técnico em Psicologia do Desporto que está integrado na equipa e o Treinador.
Para isso começo com a citação de Buceta (1998),“A intervenção psicológica no mundo dos desportos competitivos pode ajudar a optimizar o desempenho do atleta em sessões de treino, garantindo que o tempo gasto no treinamento seja aproveitado ao máximo possível."



A intervenção Psicológica, como uma das áreas do treino desportivo, melhora e prepara o atleta para corresponder de forma mais eficaz e completa aos estímulos presentes na competição. E para que assim se suceda, é necessário treino de:
·        aprendizagem;
·        repetição;
·        exposição aos estímulos da competição.
Exatamente da mesma forma que o treino técnico, físico e tático. Porém, ainda existe alguma relutância por parte de alguns treinadores e até mesmo atletas, sendo a sua principal causa o desconhecimento do trabalho e das consequências favoráveis do mesmo. Vamos então criar aqui um diálogo com entre um consultor em Psicologia Desportiva e um Treinador que apresenta alguma relutância ao trabalho Psicológico. O cenário tem como pano de fundo a modalidade de Basquetebol, tratando-se de um caso real.
A Reunião decorre no período da manha antes do treino e o objetivo do consultor passa por expor a importância do treino alternativo como um método eficaz para a melhoria das capacidades do atleta



Treinador: Bom dia! O que temos hoje de novo? Na sessão a anterior acabámos o programa para eu melhorar as minhas capacidades Psicológicas. Gostei. Sinto-me mais capaz, essencialmente em momentos de tensão, em que estamos a perder. Antes revoltava-me e perdia capacidade de observar e tomar as melhores decisões para a equipa. Ah e passava o stress para eles. Agora tenho as ferramentas que definimos para manter o meu foco no presente e regular a ativação. Espetáculo. Que temos mais?
Técnico Psicologia Desportiva: Bom dia Coach!! Vejo que está cheio de motivação e fico muito satisfeito por essa evolução. Através dos meus registos de observação e análise de vídeos da competição consegui verificar que de facto está com um nível de controlo superior. Parabéns por todo o seu compromisso! Hoje falo-lhe de conteúdos associados ao planeamento de treino. Sabe, já trabalho com  a equipa á algum tempo e uma das situações que considero importante implementarmos são os treinos complementares. Ou seja, aquelas atividades individuais que permitam o atleta incorporarmelhorar, eliminar ou consolidar comportamentos que consideramos relevantes para o seu rendimento. Isso fará com que haja um aumento de adesão do atleta a todo o processo pois, ele sente-se útilcom conteúdos de desempenho para treinar e percebe que pode evoluir. Quando abordo isto falo não apenas de ações técnicas, mas também de treino de habilidades Psicológicas.

Treinador: Bem, não estou a perceber bem. Estamos a falar de sessões fora do treino coletivo em que definirei, individualmente necessidades que pretendo incorporar, melhorar, eliminar e consolidar? Essa avaliação já fizemos em equipa técnica e trabalhamos sobre isso no treino coletivo. Não vejo qual a necessidade de estarmos a dar mais este momento. Percebe, entre o útil e o agradável, não sei se me compensa acrescentar isso. Por exemplo, o Peter… que queres que lhe acrescente se a nível técnico ele tem tudo. Olha-me aquele tiro exterior!!!! Sabes disso.



Técnico Psicologia Desportiva: Sem dúvida, o Peter é um ótimo exemplo, tem o gesto técnico perfeito como diz o Coach e a sua eficácia sem oposição/ com oposição passiva (aprendizagem) ou com oposição ativa ( aproximação do treino aos estímulos do jogo) é elevada. Porém pense nos jogos decisivos que tivemos. Nas fases finais dos jogos foi sempre ele o decisor, a equipa passou-lhe a bola para ele decidir e ele não conseguiu ser eficaz!
Perdeu a capacidade técnica nesse momento? Claro que não, o jogo é que apresenta variáveis que são necessárias ser treinadas juntamente com a vertente técnica. Este treino alternativo de repetições pode ser no caso do Peter. Repetir a ação técnica em que é forte. Para manter a habilidade! Porém este treino… que terá objetivos de desempenho e resultado trará algumas variáveis como:
·        frustração,
·        desconcentração,
·        stress
E isso também pretendemos treinar! O Peter já aprendeu as habilidades Psicológicas. Agora necessita de repeti-las para consolidar, aproximá-las do contexto de competição para  estar apto para as aplicar em competição.
Treinador: Estou a perceber. Ou seja. Do treino Psicológico que fizeste com eles pensas que é mais eficaz apresentar um treino complementar que vá individualmente ás necessidades do atleta e criar conteúdos… mesmo que o conteúdo técnico esteja consolidado para ajudar a consolidar as estratégias que trabalharam contigo na fase de aprendizagem.
Técnico Psicologia Desportiva: Nem mais!
Treinador: Como fazemos isto?



Técnico Psicologia Desportiva: O treino complementar divide-se em quatro momentos específicos. Mas atenção isto tem de ser um processo onde o nosso conhecimento dos comportamentos a manter, consolidar, eliminar e incorporar estejam muito bem identificados e isso já temos.
Como estava a dizer são 4 os momentos:
·        Aprendizagem  de habilidades e comportamentos relevantes;
·        repetição desses comportamentos;
·        prática e exposição ás condições desportivas
·        preparação especifica.
Vamos dar o exemplo do Peter.
A fase de aprendizagem do lançamento exterior (técnico), bem como das habilidades Psicológicas fundamentais estão apreendidas)


Vamos agora passar para a fase de repetição… temos de refletir sobre quantos momentos semanais… um talvez? Temos de falar com o preparador físico. Aqui vamos potenciar os conteúdos em que ele é forte tecnicamente mas colocando objetivos de desempenho e variáveis que possam provocar desconcentração, stress e frustração para que ele consolide as técnicas aprendidas na fase anterior comigo . Atenção nesta fase é importante termos em conta que:
1.      os objetivos de desempenho são prioritários mas temos de colocar também de resultado, para termos alguma aproximação aos estímulos emocionais do jogo;
2.      devemos usar gravações (para basearmos as análises de desempenho através de factos);
3.      ter em conta o feedback através do reforço e punição;
4.      trabalhar a tolerância á dor e fadiga este é um processo que desafia e exige superação por parte do Peter, por isso é essencial direcionar a atenção para a execução e instrução e não para a dor e fadiga;
5.      e algo que considero essencial: Os registos de informação: perceber qualitativamente o que o atleta sentiu no decorrer do treino e a percepção do mesmo perante o processo.
Após este processo de repetição, em que temos de planear o número de sessões, sendo o mesmo adaptável no decorrer do processo, passamos para a prática em condições de competição



Esta fase já integrada no programa de treinos de grupo. Pois as habilidades já foram consolidadas estando em condições de serem aplicadas nos momentos que já temos nesta fase da época, como:
·        Treino conjunto com atletas de um ambiente diferente (convidar equipas de fora ou de outro escalão do mesmo clube);
·        simulação de competições em treinos normais;
·        aproximação a situações de competição através de situações análogas (exercícios reduzidos mas que aproximem os comportamentos aos da competição);
·        prática de visualização mental para antecipar cenários de competição.
Por fim, a preparação para a competição que  fazemos. Com o primeiro momento fora do campo, analisando a competição, avaliar o adversário, os nossos recursos e definir a estratégia e o segundo período dentro do campo, ou seja, a prática. Como vez, este processo de treino psicológico  dá para ser integrado  tudo o que já fazemos.
Treinador: Falamos com o Preparador físico, desenvolvemos o programa e vamos a isso!
Considerações Finais: Vou ser muito breve pois o único aspeto que pretendo destacar ao leitor é que, com este diálogo pretendi dar a conhecer o que um técnico em Psicologia do Desporto faz integrado numa equipa técnica, ou num clube. O objetivo é trabalhar de forma integrada, incluindo no programa de treino os seus conteúdos de trabalho. Para isso é necessário que haja total abertura de toda a equipa técnica para um trabalho que deve ter como base a Multidisciplinaridade. Todo este trabalho como qualquer outro, seja técnico físico ou tático deve incluir sempre as seguintes fases: Aprendizagem das habilidades; Repetição das habilidades; Aproximação das habilidades ao contexto de competição e Preparação para a competição.

PAI, MÃE ..... NÃO QUERO JOGAR MAIS! DESISTIR!


Há uns dias fui desafiado por um colega treinador a refletir sobre as diferenças principais entre dois jovens desportistas. Um deles passou a maior parte da sua formação desportiva a jogar pouco mais do que os minutos “obrigatórios” nos escalões iniciais, jogou pouco tempo no seu primeiro ano de júnior e… esteve para desistir. Mas ficou. E revelou tamanha evolução no seu último ano de júnior que foi inclusivamente chamado a representar a equipa sênior do seu clube. O outro passou a sua formação a jogar o máximo de tempo permitido nos escalões de base, continuou a jogar bastante tempo no seu primeiro ano de júnior mas viu o seu tempo de jogo diminuído no seu ano seguinte e… desistiu da modalidade.
Resumindo, um atleta que exibia mais competências (vulgo talento) durante quase toda a sua formação não chegou a sênior enquanto outro, que todos apostavam que nunca lá chegaria, acabou mesmo por cumprir o sonho de representar a equipa principal do seu clube. O que fez com que o primeiro desistisse? O que fez com que o segundo se tenha conseguido superar e concretizar o seu objectivo? Serão estes dois exemplos assim tão raros?
A primeira resposta que dei ao meu amigo treinador foi: “isso é fácil; metade da análise é sobre a minha vida. Eu fui esse segundo caso”. Comecemos então pelo que me é mais familiar…





A minha experiência enquanto atleta passou por começar aos 13 no basquetebol e só começar a ser convocado no meu primeiro ano de júnior. Passou também por ter aquele que, ainda hoje, considero o “Record Mundial de Menos Tempo Jogado”. O jogo ainda tinha duas partes de 20 minutos cada. Quando faltava um segundo para o final da primeira parte, um colega meu lesionou-se. O treinador olha para o banco e chama-me. Entrei e fui pressionar quem repunha a bola. Ele passou e a buzina apitou. Intervalo. Fomos para o balneário e o meu colega recuperou. Pensei que voltaria a entrar nesse jogo mas não. Só joguei um segundo. Numa altura em que os segundos eram a divisão mais pequena nos marcadores. Ainda hoje sinto que deveria ter o meu record homologado, o nome no Livro do Guiness por este feito e recebido o devido cheque.
O atleta que tem por hábito ser pouco utilizado bebe a sua confiança de fontes distintas das dos seus colegas mais chamados a entrar. Eu bebia a confiança de “chegar primeiro” e dos meus colegas me escolherem “à frente” de quem jogava. Passo a explicar: em cada exercício em que as nossas capacidades físicas fossem postas à prova lá estava eu a “chegar primeiro”. A dar tudo para ser o mais rápido, o que saltava mais alto (nunca o consegui) ou o que demonstrava mais força (física ou mental). Assumi que era minha missão obrigar o treinador a não duvidar das minhas competências, daquilo que estava sob meu controlo. Quem joga pouco, se quer jogar mais, deve encarar cada treino como sendo uma final. Mesmo que os colegas não o façam, cada treino é “a tua” final.

Procurei também, literalmente durante anos, entender o que os meus colegas gostavam de ver/ter nos seus colegas de equipa. Assim que descobria uma característica dessas, trabalhava-a. Desde ajudar a esconder as limitações defensivas de cada um até saber onde é que cada um se sentia mais à vontade para receber e lançar, a pesquisa tornou-se exaustiva e diária. Sempre com o intuito de ser valorizado pelos que suavam comigo, mais do que por aquela figura mais ou menos autoritária e distante que mudava no final de cada temporada. Quem joga pouco, se quer jogar mais, deve procurar desenvolver a empatia.
Depois veio a resiliência. Desde as piadas dos chicos-espertos que se alimentam de ridicularizar quem joga pouco aos feedbacks dos amigos mais próximos que nos questionam e duvidam, todas essas “pedras” podem ter vários “usos”. Quem joga pouco aprende a “guardá-las” para “construir um castelo”. Aprende a relativizar opiniões alheias e alimentar-se da sua confiança no trabalho diário de alta qualidade, da sua motivação intrínseca inabalável.
Inabalável?!… Bem, por vezes não… Eu desisti de jogar basquetebol pelo menos 3 vezes durante a minha formação. Todas por me sentir injustiçado/desrespeitado. Quem é adolescente precisa de pertencer. De se sentir importante no grupo que escolhe. Regressei sempre ao jogo porque tive e tenho amigos gigantes que me fizeram sentir essa importância e não me deixaram “fugir






Um estudo do Josephean Institute revelou que 90% dos jovens preferem jogar numa equipa perdedora do que passar os jogos sentado no banco duma equipa vencedora! Não fugindo à regra, eu não me importava muito se a equipa onde eu treinava era das melhores ou das piores. Desde que os amigos fossem dos melhores, para mim a equipa valia a pena!
Quanto ao atleta que está habituado a ter muito tempo de jogo e, mesmo quando está prestes a terminar a sua formação desportiva começa a perder esse tempo, o fenômeno inverso pode apresentar múltiplas causas. Desde burnout a outros interesses, passando pelas relações com treinador e colegas. Hoje em dia há um fator novo que não existia quando eu era adolescente: os pais. Obviamente todos tínhamos pais. Só que os nossos pais não eram os principais patrocinadores do clube e muito menos eram tão presentes, opinadores e invasivos como nós, enquanto pais, nos tornamos.
Estas são as principais causas de abandono precoce dos atletas “mais talentosos”:
1.      Expectativas/Diversão– Em 2014 a Universidade de George Washington realizou um estudo para saber o que leva os jovens a praticar desporto. A razão número um foi: porque é divertido! Foi então pedido aos jovens para identificarem o que é mais divertido no desporto e o que é menos divertido, duma lista de 81 características. Segundo eles, “Ser divertido é: 1) dar o melhor; 2) ganhar o respeito do treinador; 3) ter tempo de jogo; 4) jogar bem como equipa; 5) ter boas relações com os colegas de equipa; 6) fazer exercício físico; (…) 48) ganhar; 63) jogar em torneios; 66) fazer treinos extra com outros treinadores; 67) ganhar troféus e medalhas; 73) viajar para jogos; 81) tirar fotografias. Se os nossos jovens não se estão a divertir, eles irão abandonar. É fácil percebermos isso pois enquanto adultos também não nos envolvemos em trabalho voluntário na comunidade se não for divertido. Cabe ao treinador criar contextos de superação constante de modo a que os seus jovens atletas estejam permanentemente obrigados a dar o seu melhor, logo, a divertir-se. Não a ganhar…





2.      Desrespeito– Nenhum adulto gosta de se sentir desrespeitado. Com os jovens acontece a mesma coisa. No estudo referido acima (George Washington University, 2014) os jovens questionados identificaram “As 5 principais características de um Grande Treinador”: 1) Respeito e encorajamento; 2) Referência positiva; 3) Comunicação clara e coerente; 4) Conhecimento do desporto; 5) Bom ouvinte. Muitos pais e treinadores tratam os jovens de forma duríssima de cada vez que eles cometem um erro. Muitas vezes de uma forma bem mais dura do que aquela que admitiriam que um professor ou um patrão usasse para consigo. Desde ralhetes em público, a castigos visíveis, substituições, ausências de convocatórias. A cultura do castigo, venha ele do treinador ou da bancada, é o que conduz muitos jovens ao abandono precoce. Urge servir as necessidades, os valores e as corretas prioridades dos nossos rapazes e raparigas.
3.      Perda de posse/controlo da experiência– O que leva um adolescente a jogar mais de 10 horas por dia de videojogos? A sensação de posse/controlo da experiência sem que esteja um adulto por perto a escrutinar os erros e os resultado obtidos ou a exigir que faça assim ou assado. Se no final de um jogo deres por ti a dizer ao teu filho: “hoje marcámos 2 golos” ou “podíamos ter defendido melhor”, estás a roubar-lhe uma parte significativa do prazer da experiência. A parte da posse e do controlo que lhe conferem (ao jovem) importância. Se deres por ti na bancada durante o jogo a gritar: “passa”, “corta”, “lança”, … idem. É simples, para nós adultos, entender isto se pensarmos se gostaríamos de ter o chefe ao alto durante o trabalho a dizer: “faz assim”, “não faças isso”, “faz daquela maneira”, “não, assim não!”…
4.      BurnoutAtualmente é exigido aos jovens “mais talentosos” cada vez mais participação com subidas de escalão, chamadas a seleções, treinos extra de aprimoramento técnico, etc. Muitas vezes o resultado é o burnout dos mais talentosos e o seu abandono precoce. Para reflexão: estaremos a perder os nossos atletas mais talentosos por exigirmos demais deles demasiado cedo?
5.      Pais– “É o meu pai. Ele adora-me e faz o melhor que sabe para que eu me sinta bem. Mas ele não consegue parar de ser meu “treinador”! No carro e na bancada. Em todos os jogos! Eu não me sinto tão bem em campo quando ele está presente. E ele está SEMPRE presente! Seja nos jogos, nos treinos, nas viagens… Até parece que isto é mais importante para ele do que para mim!”. Infelizmente, este desabafo é muito mais comum do que pensamos. Todos nós enquanto pais procuramos fazer o melhor para os nossos filhos. Frequentemente acontece não sabermos demonstrar o nosso enorme amor da forma mais útil e que mais os ajude.


O desporto é um mundo muito duro. Requer milhares de horas de treino até que nos tornemos competentes no que optamos por fazer. Não chega “lá acima” quem quer. Para além de muitos não o quererem, chega quem é resiliente e se supera.
Compete aos treinadores a criação contextos de superação permanente onde o respeito e o encorajamento sejam omnipresentes porque isso é divertido! Os jovens não acham tão divertido viajar, tirar selfies ou ganhar!
Cabe aos pais a adequação das demonstrações do seu infinito amor pelos seus filhos para que estas se tornem úteis e fonte de orgulho (não de vergonha) para os jovens descendentes!

A História do 3:5:2 Com 2 alas

CURIOSO ou Talvez não!



O 3-5-2  com dois alas e dois avançados, é um padrão tático muito utilizado no mundo do futebol, o que comprova isto, é que mesmo no Brasil, é o segundo modelo tático mais utilizado, perdendo apenas para o tradicional e mais utilizado 4-4-2. É uma tática, que costuma ser caracterizada como defensiva, por  possuir 3 defensas centrais, porém, na prática, nem sempre isso é uma realidade. abaixo, colocarei alguns detalhes quanto a sua história e como funciona nos dias atuais:
O 3-5-2 com 2 alas, 3 médios, 2 defensas e geralmente um líbero, surgiu na Inglaterra, entre os anos finais da década de 80 e começo da década de 90. Não existem registos das primeiras equipas a utilizarem este esquema, nem a data precisa de sua criação, porém, foi um padrão que começou a ser considerado como tendencia entre clubes de países como Inglaterra, Itália e Alemanha, estes foram países que se adequaram bem a este estilo e foi justamente nestes países, que possuem os primeiros registos de sua criação. Foi um esquema que teve certa importância histórica, pois de certa forma introduziu o modo de jogar da década de 90, sendo o esquema mais utilizado no Mundial de 1990.



No plano tático, o 3-5-2 surgiu de uma variação do 4-4-2 inglês tradicional, com a ideia de dar maior variações de jogadas. A ideia base do 3-5-2, é povoar o meio campo e dar maior estabilidade tanto para a defesa, quanto para o ataque, utilizando duas peças fundamentais para seu padrão tático:
O líbero – que pode tanto fazer o papel defensivo, quanto o ofensivo. No primeiro, o libero posiciona-se atrás dos dois centrais, num sistema de marcação a zona, com a ideia de prevenir a defesa de contra-ataques em velocidade do adversário e atuar como “um sistema de escape”, quando um dos dois centrais comete erros em jogadas perigosas. Na segunda função, o libero posiciona-se a frente da linha defensiva, em uma zona entre os zagueiro e o primeiro meio campista, tendo como principal função, acrescentar uma opção para a saída de bola, facilitando a construção de jogadas.


Os alas – que talvez, sejam os principais jogadores deste esquema. No 3-5-2, o ala deve ter a capacidade de atacar e criar jogadas com qualidade, assim como também deve ter boa noção defensiva, para desempenhar bem sua função. Neste esquema, onde estão muitos jogadores concentrados no meio campo, centralizados, é muito importante que os alas façam as jogadas de linha de fundo com qualidade, pois caso contrario, a equipa acaba sendo marcada muito facilmente e por consequência, não consegue reter a posse de bola por muito tempo ou dar objetividade a mesma, o que no futebol atual, é o primeiro passo para a derrota.

Outra questão muito importante, é que para o 3-5-2 funcionar, alem de alas capacitados, também é necessário possuir centrais que tenham boa qualidade na saída de bola e um trinco competente, que tenha capacidade de criar e organizar o meio campo, para suprir a ausência de outro jogador de mesma característica ao lado.  Caso não tenham estes jogadores, a equipa corre o risco de ficar recuada demasiadamente e facilitar a construção de jogadas do adversário.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

A Importância do Treinador


Além de ter formação e ser profissionalmente qualificado, um treinador tem que ter outras capacidades para “prender” as pessoas ao desporto, motivar, transmitir os seus conhecimentos para que se pratique de forma saudável e gerar segurança. O estilo de comunicação e o discurso de um treinador são uma ferramenta poderosa na sua profissão.É, no fundo, como todos devíamos ser como pais, educadores, chefes e até como amigos.


Cuida da autoestima dos atletas
É influenciada pela imagem que recebem do treinador. Fala em termos positivos, projetando uma imagem de capacidade, “sei que és capaz, espero isto de ti porque sei que o podes conseguir, gosto de trabalhar contigo, tenho orgulho em ter-te na minha equipa”.
Transmite segurança
Ouvir palavras sobre progresso, acertos e avanços, gera segurança. “Cada vez melhor, estás no caminho
certo”. Vais conseguir que a pessoa sinta que o esforço está a valer a pena e que hoje é melhor desportista do que o que era ontem.


Motiva, adequando-te à personalidade de quem estás a dirigir
Nem todas as pessoas respondem aos vídeos motivacionais. Saber o que motiva um desportista é tão fácil como perguntar-lhe “o que te motiva, o que te emociona?”. A sensibilidade, a personalidade, a experiência prévia influenciam a nossa forma de sentir.
Corrige de forma positiva, oferecendo soluções
Tens duas maneiras de corrigir: fazendo finca-pé no que falha ou descrevendo o que é necessário para realizar o exercício de forma correta. Dá mais ênfase às soluções e áreas de melhoria. O cérebro entende e processa melhor a informação recebida em termos positivos. “Faz isto” em vez de “não faças isto”.


Não grites nem humilhes
Não pressiones, pede apenas responsabilidade. Muitos treinadores pensam que a pressão ativa e coloca o desportista na tarefa. Alguns respondem bem ao desafio ou à provocação, mas muitos sentem-se ridículos e humilhados. Motiva muito mais uma palavra de alento num tom positivo que sentir-se
ameaçado. Pensar que a provocação possa gerar ansiedade em quem a recebe é motivo suficiente para não a utilizar.
Sê empático, tens uma pessoa à frente
Além do desporto, tem família e se não é profissional também tem um trabalho e sobretudo tem problemas. Ser empático é colocar-nos no lugar de quem treinas, sem julgar. Pensar que se um dia não dá o melhor de si, pode não significar que não esteja comprometido, talvez tenha um problema que nem te mostraste interessado em saber. Perguntar como está e se podes ajudar pode ser muito mais  motivador que continuar a insistir para trabalhar com sacrifício.


Sê amável e interessa-te pelas pessoas que treinasO aspeto profissional é importante, mas o humano é mais ainda. Tem atenção a como se encontram,
se aparentam felicidade ou tristeza. Não precisas de resolver os seus problemas, apenas demonstrar
interesse por eles.
Comunicação verbal
Fala mais de ti do que as tuas palavras. Sorri, dá a mão, uma palmada nas costas, dá um grande abraço.
São muitas as relações que se estragam por falta de entendimento e comunicação. E muitas
mantêm-se pela cumplicidade, porque a pessoa se sente compreendida, querida e motivada. E isto depende da forma como comunicas.





sábado, 15 de julho de 2017

Sedentarismo e a Inatividade Física: qual o impacto na saúde?

Tradicionalmente, os conceitos de sedentarismo e inatividade física são tidos como sinónimos, sendo aceite que ambos representam a mesma face de uma moeda. Nada mais longe da verdade. Por estranho que possa parecer, uma pessoa pode ser considerada ativa e ao mesmo tempo sedentária. Por exemplo, um indivíduo pode cumprir as recomendações da Organização Mundial de Saúde para a atividade física, e passar grande parte do seu dia em comportamentos sedentários. Mas que implicações tem estes conceitos para a saúde das pessoas?




Ser-se fisicamente ativo implica a realização de 30 minutos por dia de atividade física moderada ou 75 minutos por semana de atividade vigorosa. A inatividade física é apontada pela Organização Mundial de Saúde como um preditor de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, obesidade, alguns tipos de cancro e mortalidade, assim como de pior qualidade de vida. Por exemplo, em 2008 cerca de 9% da morte prematura que ocorreu em todo o mundo foi provocada pela inatividade física. Em Portugal estima-se que a inatividade física seja responsável por 8,4% das doenças cardíacas, por 10,5% da diabetes tipo 2, por 14,2% do cancro da mama e por 15,1% do cancro do cólon ocorridos.



Por outro lado, o sedentarismo é definido por um gasto mínimo de energia um pouco superior ao repouso (cerca de 150%). Por exemplo, um individuo pode ter um comportamento sedentário por estar sentado a ver televisão, jogar videojogos ou andar de carro. Este comportamento sedentário é um fator de risco de pior saúde e de morte prematura. A investigação científica demonstra que as pessoas que passam mais de 10 horas diárias sentadas apresentam um risco de mortalidade 34% superior, comparando com as pessoas que passam apenas 1 hora por dia sentadas.





Porém, o impacto negativo do sedentarismo na saúde das pessoas pode ser diminuído perante a realização de atividade física. Ou seja, é possível algumas pessoas terem um desgaste diário reduzido e ainda assim realizarem alguma atividade física. Um estudo efetuado com 55 mil adultos demonstrou que mesmo quando estes não atingem as recomendações mínimas de atividade física, correr 5 a 10 minutos por dia a uma velocidade lenta (9,5 km/h) reduz em 30% a mortalidade e em 45% as doenças cardiovasculares, para além de aumentar 3 anos na esperança de vida. Para as pessoas muito ocupadas, que se desculpam com o pouco tempo disponível para o exercício, será muito mais fácil encaixar 5 a 10 minutos na rotina diária do que os 30 minutos recomendados.
Num ano em que se realizam os Jogos Olímpicos, em que os atletas de elite irão competir sob o olhar de muitos espetadores insuficientemente ativos ou sedentários, temos mais uma ótima oportunidade para alertar para os benefícios do desporto e da atividade física na saúde, contribuindo para uma sociedade mais ativa e saudável.


quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O futebol de rua, a criatividade e os treinos de formação



Hoje em dia fala-se muito na falta das brincadeiras na rua ou no “campo do bairro” e como isso prejudica a imaginação dos jovens futebolistas. Que o treinador tem que trazer o futebol de rua para o treino e que deve dar liberdade aos seus jogadores para “darem asas” à sua imaginação.





Eu concordo plenamente com esta linha de pensamento. Não só agora, mas desde sempre. O que acredito acima de tudo é que os treinadores não devem desvirtuar o jogo durante o treino, em cada exercício o futebol (o jogo) deve estar presente e nunca ir contra a sua essência.
Muitos treinadores de formação tentam implementar um tipo de jogo de posse, em que privilegiam o passe curto, poucos toques na bola e que tem como objetivo chegar ao golo de forma segura e organizada. Para isso fazem muitos exercícios com limites de toques (3, 2 e às vezes até 1), muitos jogadores de equipas seniores não tem capacidade técnico-tática para fazer um exercício destes com qualidade, um jogador benjamim ou infantil vai ter? Muitas vezes obriga-os a fazer movimentações e posições corporais pouco ortodoxas e que nada têm a ver com o jogo, 3 toques muitas vezes é o que necessitam para receber uma bola com qualidade. Tira-lhes criatividade porque não podem fazer um drible, ou receber orientado e levantar a cabeça para fazer um passe de rutura. Mas fundamentalmente, tira-lhes a possibilidade de cumprirem o princípio da progressão, tendo espaço para a baliza não podem progredir para o golo porque têm uma limitação de toques. Faz sentido?

Outro tipo de exercício que vejo muito frequentemente é a obrigatoriedade de variação do centro de jogo, onde a equipa precisa de ir a um apoio lateral e ao outro antes de ir para a baliza. Mais uma vez estamos a limitar a criatividade dos jogadores, que não podem ganhar a bola e fazer rapidamente um remate ou descobrir um último passe, muitas vezes ganham bola na posição central e em vez de irem para a baliza como seria espetável têm que ir aos apoios.

Este tipo de exercícios limita a criatividade dos jogadores e cria-lhes hábitos muito difíceis de tirar mais tarde e que deturpam a sua interpretação do jogo. O objetivo é que os nossos jogadores percebam o jogo e tomem uma boa decisão em função do que está a acontecer naquele momento. Têm que ter o poder de escolha como no jogo, e quanto mais escolhas mais próximo do jogo estaremos.

Uma forma de contornar a situação dos apoios seria duplicar ou triplicar a pontuação sempre que haja golo depois de uma variação do centro de jogo. Existe a escolha, eu posso ir para a baliza e marcar logo ou variar o jogo. Inicialmente vão haver menos variações, mas eles vão percebendo que lhes trás vantagem e o objetivo do treinador vai aparecendo aos poucos.
Quanto ao limite de toques parece-me que só será boa opção se for para limitar um apoio ou joker, quando queremos que joguem de forma mais rápida e diminuam a condução com bola; criar inferioridade numérica e aumentar por exemplo os apoios por fora permite-nos essa dinâmica. Os exercícios serão muito mais apelativos para os jovens e haverá mais magia no treino!


Horst Wein tem um artigo bastante interessante sobre este assunto chamado “How to Develop Creative Players”. Neste artigo ele apresenta-nos algumas dicas de como poderemos tornar os nossos jogadores mais criativos e algumas razões para eles terem cada vez menos essa capacidade. Sumariamente:





  • “Declarar guerra ao 11vs11” – Segundo Wein o jogo a 11 não permite aos jogadores jovens intervir vezes suficientes para utilizarem a sua criatividade e fazerem coisas diferentes; 

  • “Deixar os jogadores jogar sem correção constante” – A correção constante aumenta a pressão sobre os jogadores, devem jogar o jogo pelo jogo e não sempre com objetivos impostos pelo treinador;

  • “Insistir que todos os jogadores jogam em todas as posições e em espaço reduzido” – Cada posição tem funções e relações diferentes com os colegas e com as zonas do campo, os jogadores devem passar pelas experiências mais variadas possíveis;

  • “Lembrar que apenas os que se divertem conseguem ser criativos” – a imposição de objetivos e padrões de comportamento produz conhecimento rígido que bloqueia a liberdade de pensamentos e movimentos;

  • “Deixar os jogadores criar os seus próprios jogos e regras” – durante uma pequena parte do treino dar aos jogadores um tempo para inventarem um jogo ou fazerem o jogo que gostam mais, aumenta a sua imaginação, o seu sentido de responsabilidade e a sua capacidade de iniciativa;

  • “Desafiar os jogadores a correr riscos e melhorar sem temer consequências” – jogadores jovens dos 7 aos 12 anos não devem pressionados para passar a bola, devem ter permissão para “estar apaixonados pela bola” para melhorar a sua relação com a bola e tomarem riscos sem temer consequências.

Treino Psicológico! Como fazer! Como treinar! Como tirar rendimento!

Treino, quando falamos nesta palavra, muitas vezes o nosso pensamento direciona-se predominantemente para conteúdos referentes à vertent...