segunda-feira, 18 de abril de 2011

A Essência Táctica (e / ou Complexa?) do Jogo de Futebol

“É sabido que a água (H2O) é um meio essencial para
apagar o fogo, no entanto, se separarmos as suas
componentes, hidrogénio e oxigénio, qualquer uma destas
ao invés de apagar o fogo, incandesce-o ainda mais.”
(Karl Popper)
Muito se tem discutido no meio do futebol sobre metodologias de treino, principalmente no meio académico (é sabido o distanciamento que este tem dos profissionais que vão a campo com suas equipas diariamente por motivos que não cabem aqui neste texto), na busca de aprimoramento dos métodos e neste momento transcendendo-se um pouco (até agora um pouco, mas com possibilidade de se tornar algo grandioso) e vislumbrando uma possível ruptura paradigmática. Novas propostas de estruturação do treino de futebol como a Periodização Táctica construída pelo professor Vítor Frade da Universidade do Porto e apresentada para os seus alunos há cerca de trinta anos vem contribuindo muito para essa contestação ao treino analítico, fragmentado e fez emergir um novo paradigma, o da Complexidade. Essa Teoria (a da Complexidade) tendo como um de seus expoentes o francês Edgar Morin propõe a integração, a interacção, a relação entre ordem e desordem para uma reconstrução do conhecimento e para uma reorganização num nível superior ao anterior.
Devido ao sucesso de José Mourinho (primeiro e até ao momento o único treinador de Top adepto assumido da Periodização Táctica) muitos aderiram ao método, porém sem o mesmo sucesso. Talvez por colocarem a dominante táctica como norteadora do processo, muitos incorreram no mesmo equívoco do paradigma cartesiano, fragmentaram o treino de outra forma negando as outras dominantes (técnica, física e psicológica) em maior ou menor grau para cada uma delas. Para Júlio Garganta (1997) “a dimensão táctica ocupa o núcleo da estrutura de rendimento no futebol, pelo que a função principal dos demais factores, sejam eles de natureza técnica, física ou psíquica, é a de cooperar no sentido de facultarem o acesso a desempenhos tácticos de nível cada vez mais elevado”. Nesta frase do autor fica clara a interdependência entre as dominantes, atentando para o facto de que no processo de treino a equipa tenha como objectivo central atingir picos de "Performance de Jogo" e não simplesmente picos relacionados à dominante táctica. Colocar a dominante táctica como balizadora do processo ao invés da dominante física é um avanço no sentido de proporcionar um carácter mais específico, mas não se configura em mudança de paradigma (do cartesiano à complexidade) se não forem criados exercícios que correspondam ás várias situações do jogo para que todas as dominantes presentes se manifestem em simultâneo, de forma integrada. Claro que esses exercícios estarão dentro de um projecto maior, pedagógico, com construção, desconstrução e reconstrução de comportamentos, evoluindo num espiral contínuo que tem o jogar que se pretende como modelo.
Mini-jogos e jogos-reduzidos não são Periodização Táctica, pois são propostos de forma aleatória e sem manter relação entre os conteúdos anteriores e posteriores ao longo de um espaço temporal e também por, na maioria das vezes, não estarem relacionados com a forma de jogar da equipa.
É pois fundamental que as equipas trabalhem sob essa nova perspectiva considerando todas as variáveis, aprofundarem-se no conceito de complexidade para que as suas equipas não paguem com derrotas os seus erros metodológicos. Será que o grande diferencial em relação ao trabalho de campo de José Mourinho não seja fazer com que as suas equipas apresentem uma alta "Intensidade de Jogo" ao invés de uma alta "Intensidade Táctica", como ele próprio denomina? Cuidados são necessários para que conceitos não sejam confundidos e atrasem novos modelos de se trabalhar com o futebol de Formação, de Alto Rendimento e de Rendimento Superior.

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