segunda-feira, 25 de abril de 2011

O TREINO DA VELOCIDADE NO FUTEBOL


Algumas Considerações

(1) o treino da velocidade relacionado com as acções explosivas efectuadas em espaço reduzido, tais como saltos, travagens, mudanças de direcção, passes, remates, e outras actividades acíclicas;
(2) o treino da velocidade de repetição, mais relacionado com as acções cíclicas, produzidas num espaço mais amplo, como por exemplo a corrida, com e sem bola.

Dado que a prestação efectiva dos jogadores numa partida se prolonga por um período de tempo considerável, não basta ser rápido. É necessário sê-lo muitas vezes, sem perder eficácia. Deste modo uma das preocupações ao nível do treino é predispor o jogador para repetir a realização de acções rápidas, ao longo do jogo, sem que a sua velocidade de realização baixe drasticamente por aparecimento da fadiga. À capacidade que permite fazer face a este condicionamento dá-se o nome de velocidade/resistência.

PRECEITOS FUNDAMENTAIS

"Como já o referimos, o treino da velocidade deve ser equacionado para que haja um casamento óptimo entre a solicitação das valências perceptivas, decisionais e neuromusculares. Há, portanto, que reconhecer que os benefícios do treino da designada velocidade funcional, que integra os ingredientes do jogo, são bem mais significativos do que o treino formal de velocidade, este habitualmente associado aos sprints lineares realizados sem bola. Nesta linha de raciocínio, para que o desenvolvimento da velocidade seja eficaz, parece-nos importante atender aos seguintes preceitos:

* Gerar esforços de intensidade maximal

Para que se consiga uma adaptação efectiva é imprescindível exigir-se ao executante elevada concentração e máximo empenhamento na tarefa a realizar. O respeito por esta exigência é fundamental, dado que o exercício apenas induz a adaptação desejada se provocar a solicitação de um número significativo de unidades motoras, o que, por sua vez, reclama intensidade maximal na sua execução.
Tal implica o respeito pelas seguintes condições:
• é conveniente realizar o treino de velocidade no início das sessões, após um adequado aquecimento. O desenvolvimento da velocidade deve ter lugar em condições de relativa frescura nervosa e muscular
Quando a fadiga começa a instalar-se a excitabilidade do sistema neuromuscular diminui, provocando também uma redução da coordenação intra e intermuscular e, com ela, uma diminuição da eficiência dos movimentos. Neste caso o efeito de treino orientar-se-á, sobretudo, para a velocidade-resistência;
• os exercícios devem ser realizados durante períodos de tempo curtos, até 10 segundos;
• os períodos de recuperação devem ser longos, com duração superior a cinco vezes o tempo de duração do exercício, de forma a permitir uma recuperação completa, e assim se criarem condições aos sistemas implicados para nova repetição ou série em regime de intensidade máxima.
Para o caso particular da velocidade-resistência, pode ter-se como referência exercícios realizados com intensidade quase máxima, com uma duração entre 20 e 40 segundos e intervalos de recuperação entre três e cinco vezes a duração do exercício. Os intervalos devem incluir actividades de repouso activo que acelerem a recuperação, como por exemplo corrida lenta.
* Estabilizar o contexto de treino

Importa criar um contexto de treino no qual as experiências motoras favoreçam a identificação de uma regularidade de certos efeitos. Isto permite que o praticante seleccione os aspectos fundamentais e que o treinador disponha de condições para o informar acerca da maior ou menor justeza dos seus comportamentos e dos aspectos sobre os quais deve actuar para ser eficaz. No âmbito energético-funcional, um dos aspectos a considerar é a realização de um volume de trabalho suficiente para provocar uma adaptação positiva. Dependendo embora da estrutura interna do exercício, do grau de motivação dos atletas e do seu estado de treino, para o desenvolvimento da velocidade parece razoável tomar-se como referência a execução de 2 a 10 séries de 2 a 10 repetições
* Desenvolver o complexo velocidade-precisão

A procura da conjugação velocidade-precisão, aquando do treino das habilidades técnicas, é um aspecto importante a ter em conta, no sentido do aperfeiçoamento do controlo da alternância da contracção e descontracção dos músculos esqueléticos, da coordenação intra e intermuscular, em função dos padrões de movimento típicos da modalidade e também da adaptabilidade na realização de movimentos atípicos.
Não obstante pesquisas, efectuadas no âmbito da Psicologia do Trabalho, tenham demonstrado que toda a aprendizagem é acompanhada de um aumento de velocidade de realização do sujeito para a tarefa considerada, sabe-se que existe um limiar de velocidade abaixo e acima do qual o desenvolvimento da velocidade não se faz sentir. Enquanto que no primeiro caso a precisão das acções raramente é perturbada, no segundo ela torna-se praticamente inacessível.
Assim, impõe-se a adopção de uma velocidade crítica que viabilize a relação optimal entre a velocidade e a precisão, não ignorando que a mesma varia, entre outros aspectos, com a complexidade da tarefa a realizar e com o nível do praticante. Para que o desenvolvimento do complexo velocidade-precisão não fique comprometido, o jogador deve ter assimilado e estabilizado o estereótipo dinâmico motor relativo aos requisitos fundamentais das habilidades técnicas. As habilidades técnicas devem ser aprendidas e estabilizadas a velocidades relativamente baixas. Contudo, é ao experimentar acções executadas a velocidades superiores, que o praticante adquire a correspondente imagem sensório-motora do movimento. Por essa razão e também porque o transfere da técnica aprendida a baixa velocidade para exigências de alta velocidade é extraordinariamente complexo, o atleta deve ser encorajado a consolidar a técnica acelerando, aumentando a intensidade. Neste sentido, preconiza-se a realização de exercícios de velocidade funcional, os quais devem reproduzir, não só o padrão estrutural dos movimentos a adoptar, mas também a velocidade crítica com que os mesmos devem ser executados.
É óbvio que ao pretender-se desenvolver a velocidade funcional, deve garantir-se que os atletas assegurem a continuidade das acções, o que implica, por exemplo, que saibam receber a bola e passá-la em condições de ser jogada, ou conduzi-la em progressão sem perder o seu controlo. Se os atletas estiverem constantemente a perder o controlo da bola, a continuidade e a ligação das acções ficará comprometida e, por consequência, estará também comprometido o desenvolvimento da velocidade.
* Desenvolver a velocidade em contextos de interferência técnico-táctica

O desenvolvimento da velocidade em contextos de interferência táctico-técnica revela-se muito importante. Neste domínio a procura da individualização da carga e da diferenciação do conteúdo, em função do estatuto posicional e das características dos jogadores, são aspectos a considerar.
Para dar resposta a esta intenção torna-se muito importante o recurso a "complexos técnico-tácticos", entendidos como conjuntos de exercícios que, inspirados na matriz do modelo de jogo a perseguir, induzem um desenvolvimento motor específico do sistema funcional dos jogadores e da equipa. É conveniente, por exemplo, adoptar exercícios rítmicos que levem o jogador e a equipa a reagirem, o mais rapidamente e o melhor possível, à situação de perda ou conquista do móbil do jogo (bola, ...), com o intuito de criar desequilíbrios súbitos no balanço ataque/defesa ou defesa/ataque e surpreender o adversário.
* Dar uma intenção funcional à acção a desenvolver

Um jogador que leia ou interprete o jogo duma forma deficiente, mesmo que seja rápido na execução de acções individuais, não consegue, habitualmente, adoptar soluções proveitosas para a equipa. Sabendo que o projecto de intenção, relativo a uma determinada acção, guia já essa mesma acção no plano perceptivo, deve procurar-se que as intenções de acção resultem duma análise funcional do movimento adaptado às competências reais do executante e aos requisitos próprios do jogo. Neste sentido elas favorecem a selecção, a ligação das informações e induzem ganhos na velocidade de realização.
* Atender à especificidade do contexto

No treino da velocidade deve adoptar-se formas e situações similares às do jogo, perseguindo o denominado treino da velocidade funcional.
Tenha-se em consideração, no entanto, que os tipos de solicitações de um jogo de Futebol são diferentes das reclamadas por um jogo de Basquetebol e estas diferem das exigências típicas de um jogo de Hóquei em Patins. Este facto torna imprescindível a necessidade de perfilar a especificidade (o bilhete de identidade) da modalidade desportiva em questão.

2 comentários:

  1. Boas prof.
    Recomecei a jogar recentemente (o coração foi mais forte q a razão...), entrei a meio da época com o começo da 2ª volta após a paragem d'inverno. C 31 anos e 5 após abandonar a competição pensei q a veloc. seria 1 dor de cabeça, é, de facto, em longas distâncias, m a constante practica de futsal + os kms q fiz antes de sair de Portugal tornaram-me agil e "ligeiro" em espaços mto curtos. Apesar de abandonar a comp. nunca deixei de practicar AFD e aprendi a conhecer melhor o meu corpo (o q fazer pr melhorar certas capac.), ao recomeçar a "competir" (4ª divisão Suiça onde o prazer e o Fair play são os principais locomotores desta divisão) reparei q nem tudo mudou...perder! NEM A FEIJÕES PORRA!! Apesar de treinar 2x semana o treinador permite-me tratar da minha condição física como bem entender, lembrei então de fazer "treino multi-saltos" (elaborei 1 esquema juntando partes do q aprendi consigo, c o Prof. João Godinho e c o meu Prof. F.T.D. 11ºano João Teles cuja especialidade era Andebol) e pequenos circuitos de velocidade onde abuso das mudanças de direcção (cones em zig-zag) e de movimentos de corrida lateral. O meu "jogo de pés", impulsão e a reacção dentro dos 16m melhoraram bastante. Fiz "multi-saltos"(5 rep. X 5 series)c 2 sem. de intervalo no 1º mês e agora faço 1X por mês pois os primeiros 3/4 dias após são massacrantes...A minha questão centra-se essencialmente na periodicidade do "treino multi-saltos" e nas suas conseq. a médio longo prazo, n tenho dúvida q para a minha posição e para o q o meu corpo precisa é o mais indicado , mas temo q possa ser prejudicial a nivel de articulações e meniscos, principalmente qd faço os "cangurus" e 1 variante q aprendi c o Prof. Teles (saltar de 1m de altura, ao fazer a chamada ao solo c os pés juntos iniciar rápida/ 1 sprint de 10/15m). Espero q me possa ajudar a esclarecer esta questão, grande abraço, Kikas.

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  2. Boas Kikas
    Fiquei contente em saber que voltaste a jogar. Relativamente á tua questão e ás tuas dúvidas em relação aos multisaltos deverás fazer não 5 séries de 5 repetições mas apenas 3 séries de 6 repetições e a distancia a percorrer deverá ser de aproximadamente 20 metros. Deverás alternar com pé coxinho em altura em vez de salto ao pé coxinho em comprimento exactamente as mesmas series e repetições que as dos multisaltos. Em vez de fazer uma vez por mês faz de 3 em 3 semanas e alterna este trabalho passando assim a fazer multisaltos com intervalo de mês e meio mas compensas com os pés
    coxinhos. Vais deixar de ficar tão massacrado e o trabalho vai surtir mais efeito. Por outro lado não faças os cangurus nem o trabalho de salto de 1 metro de altura seguido de sprint compensa com um percurso de aproximadamente 10 metros em multisalto seguido de sprint. para não teres problemas de saúde no futuro. Abraço e se tiveres dúvidas não hesites
    Lívio

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